Aviação - Panair e Celso Nunes;
Aviação - Na paz e na guerra;
Aviação - Honra ao mérito e expansão
AVIAÇÃO – Parnaíba entre Nova York e Buenos Aires
Como explicado no
início deste capítulo, a Casa Ingleza cresceu muito e contribuiu de forma
expressiva para o desenvolvimento econômico e social do Piauí, no tempo em que o Brasil não tinha indústria
e era muito dependente do comércio exterior; a principal atividade da firma era
a importação de produtos europeus, mas a visão comercial de James Frederick
Clark e seu filho Septimus (que o sucedeu) os levou a importar também produtos americanos,
especialmente gasolina, querosene e óleos, passando a firma a ser distribuidora
da Standard Oil (atual Esso).
No
final da década de 1920 essa circunstância, além da localização no delta de um
grande rio, colocou a Casa Ingleza na rota por onde uma empresa americana de
aviação comercial haveria de beneficiar o Brasil, incluindo o Piauí.
Abro um parêntese: Fazendo agora um imaginário voo sobre o passado, vejo pessoas,
países, nomes, fatos e épocas que se interligam como riachos formando um rio; e
nesse contexto raciocino o seguinte, numa visão panorâmica:
Em 1927 ocorreu um fato
extraordinário que marcou a história da Aviação: Charles Lindbergh efetuou o 1º voo sem escala
entre Nova York e Paris! Os ventos que
sustentaram seu avião enquanto voava baixo sobre o Atlântico foram os mesmos
que sopraram nas velas do navio que atravessou o mesmo oceano em 1869 trazendo
da Inglaterra para o Brasil o jovem James, que - exatamente em 1927 - haveria
de ser meu avô. De igual modo, foram os ventos que impulsionaram as caravelas
de Colombo e de todos os navegadores, cujos pulmões aspiraram o mesmo ar que
deu vida ao bravo aviador e força ao motor do avião que se tornou famoso graças
ao heroísmo de quem o pilotou. Além do comandante e do combustível, o que as
aeronaves mais precisam para voar é de algo criado por Deus e por Ele colocado
à disposição da humanidade - o oxigênio
encontrado na atmosfera. Ele é o agente da combustão (da gasolina ou do
querosene que, explodindo internamente, faz girar os motores) e também o agente
da respiração (inspiração/expiração do ar nos pulmões). No livro
“Compartilhando Riquezas de Vida” escrevi sobre “O vento, o voo, o homem e...
Deus” – num capítulo sob esse título. Fecho
o parêntese.
Em 1929 a Standard Oil comunicou à Casa Ingleza a
próxima chegada de um avião em Parnaíba, solicitando seu apoio aos aviadores e
autorizando o fornecimento de gasolina e óleo. O velho James falecera no ano
anterior e o telegrama de Nova York foi lido por Celso Nunes (então sócio da firma),
que naquele instante iniciou o amistoso relacionamento com a Aviação que haveria
de perdurar ao longo de décadas.
O
apoio solicitado incluía a escolha de um local apropriado no rio Parnaíba para
o avião pousar, onde deveria ser colocado um mastro com uma grande bandeira
branca. Com a colaboração de um Oficial de Marinha (Capitão dos Portos do
Piaui), Papai escolheu o local; a bandeira foi oferecida por Mamãe, que emprestou
um lençol novo de meu irmão Fred (de 7 anos) - que no futuro haveria de ser
aviador...!
Abro um parêntese:
Muito antes do jovem Celso sonhar em conhecer e se apaixonar pela filha de um
cidadão britânico, ele já falava inglês fluentemente e trabalhava na filial
cearense de um banco de Londres - o Bank of London & South America Ltd., de
Fortaleza. Enquanto isso, o Governo Federal resolveu construir uma Estrada de
Ferro no Piauí; para chefiar a construção, foi designado o Eng. Miguel Bacelar,
que residia no Rio de Janeiro mas era
casado com Flora, filha de James e Magdá Clark.
Um dia o referido engenheiro, visitando um
amigo em Fortaleza, conheceu um sobrinho dele; passou a admirar as qualidade do
jovem e oportunamente o convidou para trabalhar com ele no Piauí até o final
das obras ferroviárias. Aconselhado pelo tio, Celso aceitou e, deixando o
“Londonbank”, foi morar em Parnaíba. Lá ele teve a felicidade de conhecer a
cunhadinha do chefe, filha caçula de James e Magdá.
O “amor
à 1ª vista” de Marie Clark e Celso Nunes resultou num lindo namoro seguido do
noivado - em 9.11.1919 - e num feliz casamento - em 6.1.1921 - que durou 68
anos. As fotos abaixo são do tempo em que eles eram noivos.
Voltemos à vida profissional do jovem Celso Nunes: quando a Estrada de
Ferro Central do Piauí foi inaugurada, o Dr. Miguel Bacellar regressou ao Rio
de Janeiro com sua família; seu auxiliar (agora cunhado) planejou voltar para
Fortaleza mas recebeu e aceitou um convite de James Clark para permanecer em
Parnaíba, trabalhando na Casa Ingleza. Com o falecimento do sogro, em 1928, ele
passou a sócio da empresa, da qual já era a segunda pessoa na administração, ao
lado de Septimus Clark.
Quando o avião acima referido afluvisou nas
águas do Parnaíba, meu pai teve o segundo caso típico de “amor à 1ª vista” -
com a Aviação...! Fecho o parêntese.
Nos anos subsequentes a evolução da
tecnologia aeronáutica fez a linha de Nova York a Buenos Aires ser servida por
aviões mais modernos: Consolidated Commodore, Sikorsky S-42 (“Brazilian Clipper”, de 4
motores) e S-43 (“Baby Clipper”).
Abro um parêntese: No
contexto da saga internacional focalizada neste artigo ressalto o seguinte
fato: no Piauí a Estrada de Ferro foi construída por Miguel Bacelar e as operações
da Pan American Airways foram coordenadas por Celso Nunes; ambos eram genros
de James Frederick Clark, o inglês que amava o Brasil. Ele vivenciou a
implantação da ferrovia mas não teve o prazer de ver a chegada das aerovias. Apesar disso, dois de
seus netos herdaram do pai o amor à Aviação e tinham um dos nomes (James e Frederico) do avô. O mais velho foi aviador, tendo desempenhado
funções relevantes na paz e na guerra, conforme relatado na parte 3/6; o mais
novo é empresário, tendo se especializado em vendas de aviões e helicópteros,
depois de ter adquirido experiência no comércio de caminhões, motores e
máquinas – conforme relatado na parte 5/6. Fecho o parêntese.
AVIAÇÃO – Panair e Celso Nunes
No ano
de 1936 meu pai se desligou da Casa Ingleza e fundou sua firma individual -
Celso Nunes - que passou a ser a Agente da Pan American e da Panair. Além dessa
atividade, a nova firma se dedicava a exportação de cera de carnaúba (para
Europa e América) e revenda de carros e caminhões da General Motors (Agência
Chevrolet).
Abro um parêntese: Quando a foto ao lado foi tirada a firma já tinha mais de dez anos, mas foi escolhida para mostrar uma bandeira hasteada - da Panair - e duas placas perpendiculares à fachada do prédio - uma da Panair e outra da Chevrolet. Entre o caminhão do centro e o 3º são vistos um cliente, meu pai, minha irmã Sônia e eu; os demais eram funcionários da matriz, em Parnaíba, em 1948. Fecho o parêntese.
Apesar
da atividade referente a transporte aéreo ser, em termos econômicos, menor do
que as outras, ela era a “menina dos olhos” de meu pai – por amor à Aviação.
AVIAÇÃO – Na paz e na guerra
Esta
peculiaridade deu a ele a dignificante oportunidade de contribuir para o
esforço de guerra no ano de 1942, época em que a África do Norte era palco de
violentos combates entre forças alemãs e inglesas, cujos geniais comandantes
entraram para a História - Marechais Erwin Rommel e Bernard Montgomery, respectivamente.
A
megalomania de Hitler e seu imenso poderio bélico indicavam a possibilidade dos
alemães dominarem territórios também na África Ocidental, o que colocaria em
risco os aeroportos do Nordeste do Brasil; alguns deles eram indispensáveis
para aviões americanos cruzarem o Atlântico em direção à Inglaterra, que deles
dependia para não sucumbir à fúria nazista de domínio da Europa e do mundo.
Para
prevenir tal possibilidade, os governos brasileiro e americano concordaram em montar
uma estratégica rede de “campos de aviação” e equipá-los para que neles pudessem
operar, em casos de emergência, aviões que ficassem impedidos de utilizar os
poucos aeroportos das capitais do Norte e Nordeste. Na hipótese de bombardeio
dos mesmos, os muitos aviões que ficariam impossibilitados de operar neles passariam
a utilizar numerosos “campos de aviação”, cada um recebendo poucos aviões. Além
disso, as pequenas pistas poderiam facilmente ser aumentadas graças à
abundância de terrenos adequados a operações aéreas, nas localidades do
interior.
Surgiu então a “Rede Aeroviária do Nordeste” da Panair, ligando dezenas de pequenas cidades dos Estados do Pará, Maranhão, Piauí e Ceará e as respectivas capitais. Para administrar a parte comercial da mesma foi “convocado” o talento do fiel e entusiástico agente da Panair em Parnaíba – o empresário Celso Nunes, meu pai. Ele aceitou e agiu prontamente, voando muitas vezes nos bimotores Lockheed Electra 10E (cujos pilotos se tornaram seus admiradores e amigos) para escolher pessoalmente um sub-Agente para cada localidade. Ofereceram a ele a supervisão de todos, mas seu bom senso o fez aceitar a responsabilidade de apenas 17 deles.
Abro um parêntese: As tripulações dos aviões eram formadas por comandantes da Panair e oficiais da FAB, juntos, como os da foto ao lado, que mostra o Tenente Délio Jardim de Matos (que seria o Ministro da Aeronáutica do Governo João Figueiredo) e o Cte. Parreiras Horta - na frente de um Electra na capital do Piauí. Os demais são o gerente da filial de Teresina da firma Celso Nunes e seus convidados. Fecho o parêntese.
A importância da rede
aeroviária criada no auge da 2ª Guerra Mundial (nos governos Getúlio
Vargas e Franklin Roosevelt) pode ser avaliada pelo seguinte fato: ela foi
suspensa logo depois do bem sucedido desembarque de tropas americanas no Norte
da África para, em conjunto com o Exército da Inglaterra, expulsar os alemães.
A
reconhecida competência demonstrada por meu pai naquela complexa missão foi
motivo de gratidão e elogio por parte da diretoria da Panair.
O final da guerra, em 1945, propiciou o ingresso dos famosos aviões Douglas DC-3 (idênticos ao da foto ao lado) nas linhas aéreas comerciais de numerosos países, inclusive o Brasil. No dia 12.11.1945 a Panair inaugurou em Parnaíba os serviços com esse equipamento, com a escala do 1º avião DC-3 de sua frota que pousou no Piauí.
Durante muitos anos a cidade de Parnaíba foi beneficiada pelas escalas
de aviões desse tipo, da Panair, da Cruzeiro do Sul e da Aerovias Brasil. A
Panair mantinha dois voos diários, um vindo do Sul para o Norte e outro
voltando no sentido oposto. Começavam em Porto Alegre e terminavam em Manaus,
escalando em praticamente todas as capitais litorâneas do Brasil. Como Teresina
fica no centro, a capital do Piauí não era servida pela Panair, que escalava
sempre em Parnaíba.
AVIAÇÃO – Honra ao mérito e expansão
Em
1948 a Panair - na época a principal empresa brasileira de Aviação Comercial - fez um importante convite ao seu admirado
Agente e velho amigo Celso Nunes: assumir sua Agência na
capital cearense. Ele,
porém, condicionou a aceitação (e sua mudança de residência de Parnaíba para
Fortaleza, com parte de sua família) a uma única exigência: o estabelecimento
imediato de uma linha Rio-Fortaleza-Rio com o emprego dos quadrimotores da
linha Brasil-Europa, que operava desde 29.4.1946.
Eram
os Lockheed Constellation L-49, que além de lindos eram a última palavra em
tecnologia aeronáutica, inclusive com cabine pressurizada (para voos serenos,
em altitudes elevadas). Foi difícil aceitarem a condição exigida mas, diante da firmeza de Celso Nunes, a ideia
foi aprovada e Fortaleza foi incluída no seleto rol de cidades servidas pelos
mais velozes e confortáveis aviões que existiam no mundo, como o da foto acima.
O sucesso foi extraordinário sob todos os aspectos, graças a Deus. Até a cidade
de Parnaíba (servida pelos bimotores) foi beneficiada - pela facilidade de
conexões com os quadrimotores que passaram a operar em Fortaleza.
Fim da
parte 4/6 Continua
na parte 5/6
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SAGA INTERNACIONAL - 6 PARTES
- SUMÁRIO
1/6 -
Saga internacional; Transplante; “Árvore do vovô”; Inglês que amava o Brasil e
brasileira que amava a Inglaterra; Dedicação e fidelidade premiadas; Entreposto
comercial na foz de um grande rio
2/6 -
Nomes, épocas e circunstâncias; Guerra no mundo...; Frederico no Japão - Embaixador do Brasil; Frederico outra vez na
França, agora como Embaixador
3/6 -
Submarinos x Aviões; Cooperação Brasil – USA; Paz e Esperança; Sonhos x
Realidade
4/6 - Aviação
- Parnaíba entre Nova York e Buenos Aires; Aviação - Panair e Celso Nunes;
Aviação - Na paz e na guerra; Aviação - Honra ao mérito e expansão
5/6 -
Negócios e Famílias - mudanças e bênçãos; Árvore comercial plantada por meu
pai -
há 80 anos; James Kelso no Rotary International
6/6 -
Elos de amor unindo gerações; Floresta de árvores genealógicas; Brasil e
Inglaterra; Conclusão
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“Perto
está o SENHOR de todos os que o invocam, de todos os que o invocam em verdade.” Salmo
145.18
Muito interessante esses fatos e história que envolve nossa cidade!!! Bem que poderia ser escrita nos livros de história do Ceará! Parabéns!
ResponderExcluirMarilia
Gostei muito. Newton Clark
ResponderExcluirGostei muito. É muito bom saber a história das pessoas que ajudaram no crescimento do nosso país.
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