quarta-feira, 2 de outubro de 2019

90 ANOS, 1 VIDA... - TRABALHO - Postagem 4 de 6


Continuação de TRABALHO   3/6      
Contendo referências sobre:

Perseverança; Sucesso frustrado por tragédia; Benefício resultante de prejuízo; 
Aviões Piper importados; Aviões Embraer-Piper nacionais; Abalroamento de avião com caminhão; Fotos do 1º e do 150º aviões vendidos; Dinheiro investido em avião volta voando. 


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Paciência, Resistência, Esperança e Perseverança

    Num exame retrospectivo constato haver minha firma sido intermediária da comercialização de mais de duzentas aeronaves (na maioria aviões executivos das marcas Cessna, Piper e Embraer)  para clientes sediados no Nordeste e em outros Estados do Brasil. Tendo   oferecido a eles um dedicado trabalho de promoção de vendas, os mesmos  nos retribuíram com sua confiança quando decidiram fazer as respectivas compras.  Nunca, porém,  foi uniforme o movimento anual;  pelo contrário, sempre tem sido irregular, com desanimadores períodos - curtos e longos - de vendas escassas.

Essa peculiaridade do comércio aeronáutico nesta sofrida região de nosso país me tem dado oportunidades de ser  testado e, consequentemente, fortalecido por Deus na perseverança que, juntamente com resistência. esperança e  paciência,  Ele houve por bem me conceder. Só assim eu haveria de permanecer no ramo quando, nos anos 60, vi desmoronar - como um castelo de areia na praia - uma organização nacional de vendas que montei. Ocorreu o seguinte:

Aviões Wren – Distribuição no Brasil

Em Fort Worth (Texas, USA) foi fundada a WREN - uma pequena fábrica de aviões da categoria "stol" ("short take-off and landing", que significa decolagens e pousos curtos). Para concentrar atenções na parte industrial e técnica, seus dirigentes confiaram os serviços de exportação a uma tradicional empresa de Nova York, que eu já conhecia.  Esta aprovou a proposta de minha firma para ser Distribuidora Exclusiva daqueles aviões no Brasil.


Condicionei, porém, o início de operações para depois de uma visita pessoal que eu e meu irmão Fred  faríamos à fábrica, onde ele teria oportunidade de  conferir se, de fato, os aviões eram o que eles afirmavam ser. Além de oficial  da reserva da Força Aérea Brasileira,  meu irmão havia recebido nos Estados Unidos as “asas douradas”  (brevet) da Aviação Naval  Americana - durante a 2ª Guerra Mundial; naquela época, ele foi comandante de aviões Catalina patrulhando a costa brasileira contra novos ataques de submarinos alemães; e, depois, pilotou quadrimotores Constellation entre o Brasil e a Europa.

O dia de nossa visita à Wren, em 1965, foi assinalado pelo pouso  de dois aviões novos que na véspera havíamos recebido na Cessna (Wichita – Kansas), destinados a clientes brasileiros que os compraram através de minha firma. Na Wren as demonstrações de que participamos comprovaram a extraordinária performance de seus aviões - que assim foram aprovados pelo Fred.

Foto na fábrica WREN: o diretor industrial - DOC MORIS - ladeado por mim e pelo Fred.

Sempre contando com o valioso apoio de meu irmão, abrI uma filial da Clark Nunes no Rio (onde ele residia), fizemos demonstrações (num avião da Fábrica) e escolhi dignas empresas de vários Estados para serem Revendedoras das aeronaves cuja distribuição nos fora confiada para o Brasil.

O avião veio pilotado pelo próprio Cte. Doc Morris. O Fred o acompanhou em todas as demonstrações. Oportunamente algumas vendas foram realizadas.

          
          Tornaram-se animadoras as perspectivas, apontando para uma lucrativa atividade, pois cada Wren vendido passou a ser um eficaz propagandista do produto, enaltecendo o desempenho e a utilidade do raro “avião veloz que voa lento” – excelente para voos de inspeção e operações em pequenos campos.





Uma trágica e lamentável ocorrência, porém, veio desmoronar o que estava dando certo: Doc Morris (que havia concebido o Wren) estava experimentando outro modelo de avião - igualmente idealizado por ele - quando irrompeu um incêndio -  obrigando-o a saltar de pára-quedas... Até aí se compreende mas...  o pára-quedas não abriu !

Com sua morte prematura, o genial Doc Morris  (foto abaixo) entrou para a galeria dos Heróis da Aviação; e pagou o alto preço de sua preciosa vida por sua louvável iniciativa de tornar o avião mais útil à humanidade. Ao grande aviador registro aqui meu modesto preito de admiração.

Diante do terrível fato o Presidente da Wren  - Mr. Pickering - teve de parar, pois seu coração não resistiu. Seu enfarto agravou a situação da empresa, que terminou falindo...

O impacto da lamentável tragédia me atingiu duplamente, pois além do sofrimento pessoal causado pela morte de um amigo, tive de suportar as consequências negativas da interrupção de uma atividade que havia exigido planejamento, dinheiro, viagens e dedicação.
  
Prejuízo que resultou em benefício

Nesse contexto percebo um paradoxo: a prejudicial interrupção de uma lucrativa atividade veio a se tornar (a longo prazo) um perene benefício pessoal.  

O benefício foi a proteção com que Deus me envolveu, no tempo de meus 37 anos, não deixando que minha firma fosse inundada pela riqueza de bens materiais, pois obviamente ela viria acompanhada de um excessivo aumento de compromissos, vaidade e orgulho, cuja somatória poderia se constituir em mais um obstáculo para dificultar ou me impedir de encontrar o caminho que me levaria até Jesus Cristo - a quem posteriormente (15 anos depois) vim a me submeter como meu Senhor e Salvador.

            Os seguintes versículos bíblicos explicam minha convicção:

Mateus 6.19-21 - “Não queirais entesourar para vós tesouros na terra, onde a ferrugem e a traça os consome, e onde os ladrões desenterram e roubam, mas entesourai para vós tesouros no céu, onde nem a ferrugem, nem a traça os consome, e onde os ladrões não os desenterram, nem roubam. Porque
onde está o teu tesouro, aí está também o teu coração.”

Mateus 6.24 - “Ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar a um e amar o outro, ou há de afeiçoar-se a um e desprezar o outro. Não podeis servir a Deus e à riqueza”.

Marcos 8.36-37 - “...que aproveitará ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca de sua alma? 

É incalculável e indescritível a felicidade que sinto por haver sido, imerecidamente, alvo de tão grande bênção por parte de Deus: a maravilhosa graça da fé em Jesus Cristo e a certeza de vida na Eternidade - com Ele!

Eu tinha 52 anos; agora estou com 91; os 39 anos de vida cristã que tive o privilégio de usufruir até hoje me credenciam a declarar o seguinte:

- a maior riqueza que alguém pode possuir é a salvação em Cristo;

- no final da vida terrena de cada ser humano a salvação é a única riqueza que não abandonará quem a possuiu, acompanhando-o para sempre.
                                      
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Aviões Piper – Vendas no Nordeste

Fotos de 1974 em São Luís: visitando a “Cobras Taxi Aéreo” a convite do Cte. Olivar Weba de Amorim Alves – para a entrega simbólica de dois aviões Aztec comprados da Piper Aircraft através da Clark Nunes.
Na 1ª (da esq. para a dir.): Cte. Ariston Araújo, Jimmy, Capitão da FAB em nome do DAC e Glacymar Marques. Na 2ª: Jimmy e os recém-chegados bimotores americanos.

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Aviões Embraer - Vendas e Serviços    Clark Nunes - Fortaleza

       Os dez ou doze mais conceituados empresários do ramo aeronáutico no Brasil foram convidados pela Embraer para compor sua rede de Revendedores dos novos aviões Embraer-Piper. Foi em 1975, quando a Embraer firmou com a Piper um acordo de cooperação industrial para a fabricação local de aviões.
 Uma condição - dedicação total e exclusiva - nos fez hesitar, mas outras vantagens nos fizeram aceitar o honroso convite. A principal foi a exclusividade de vendas (“área fechada”) em oito Estados do Nordeste. Teríamos que vender peças e instalar oficinas de manutenção e reparo de aviões - uma em Fortaleza e uma em Recife. Esta não seria filial da Clark Nunes Comercial e Técnica e sim outra firma. Eu e meu filho Mauro fundamos a Aviclan Aviação Ltda.
Oportunamente alugamos hangares nos Aeroclubes de ambas as capitais e obtivemos duas homologações do DAC do Ministério da Aeronáutica.

Depois de tudo pronto fomos surpreendidos por uma radical mudança na ”regra do jogo”: a Embraer cancelou as “áreas fechadas”, tornando o Brasil uma “área livre” para todos os Revendedores. Tivemos de enfrentar a forte concorrência de grandes empresas do Sul, que passaram a oferecer descontos a nossos clientes. Foi reduzida a receita normal e justa que esperávamos. Diante do inevitável, tivemos de sofrer as consequências e nos adaptar. 
Governador João Castelo Ribeiro Gonçalves e eu, em frente ao
biturbohélice Embraer Xingu comprado pelo Estado do Maranhão.  1981.

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Aviões Embraer - Vendas e Serviços      Aviclan - Recife

Fotos de 1976 em Recife: A inauguração de nossa oficina foi prestigiada por ilustres convidados destacando-se o Dr. Antônio Farias (Prefeito Municipal), o Major-Brigadeiro Rodolfo Becker (Comandante do II Comando Aéreo Regional), o Ten. Cel. Av. Obrecht (Chefe do Serviço Regional de Aviação Civil), o Dr. Eudes de Souza Leão Pinto (Governador Distrital do Rotary International) e outras autoridades, clientes e aviadores. Ao meu lado, a Carminha, o Brigadeiro e o Prefeito desataram a fita simbólica da nova oficina e sede da Aviclan.

Discursando, mencionei que o Cel. Ozires (fundador e Superintendente) me disse: “A Embraer estende uma asa para o Nordeste ao assinar contrato com a Clark Nunes”. Acrescentei que “o significado econômico e o alcance social da indústria aeronáutica brasileira ainda não pode ser dimensionado, apenas imaginado.”

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Aviões Embraer - Visitas à fabrica em São José dos Campos - SP

Foto em S. José dos Campos: Da esq. para a dir.: eu, o Eng. Ozílio Silva, o Cel. Renato Silva (Diretor Industrial e Diretor Comercial da Embraer) e o Piloto que recebeu o 1º avião agrícola Ipanema do novo modelo EMB-201. Ele foi vendido pela Clark Nunes ao agricultor Durval Souza Lima, de Guanambi – Bahia.  

A fim de divulgar pela televisão a entrega desse moderno Ipanema a Embraer promoveu o evento que foi prestigiado pelos Diretores vistos na foto acima.

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“Gerir é prever para prover”                                       
     
42 anos já passaram voando mas a lembrança permanece nítida em minha mente, tão rara que foi a ocorrência daquela manhã de 23.7.1977.

A Base Aérea de Fortaleza havia promovido um treinamento de combate a incêndio e convidado bombeiros militares e civis; um caminhão cruzou a pista
 no momento exato em que um avião estava pousando; ao perceber, o susto fez o motorista frear (em vez de acelerar para sair da frente e livrar a pista); o pesado caminhão tanque suportou o choque da asa que o atingiu; ela foi arrancada; o avião perdeu velocidade, rodopiou, emborcou, bateu na pista e escorregou até perder o impulso... com os pilotos e passageiros de cabeça para baixo...!


(Obs.: o caminhão atingido - do Corpo de Bombeiros do Ceará - não é o da foto; o que aparece é da Base Aérea).

Quando recebi o telefonema de um funcionário que estava no voo, fui sem demora ao Aero Club.

O avião poderia ter incendiado e explodido, mas o que não faltou foi água e bombeiros - que eficientemente impediram o surgimento de fogo.

Agradeci a Deus por haver poupado as seis vidas a bordo, lamentei a tragédia, admirei a resistência da fuselagem e tomei as providências cabíveis. O avião - novo - só tinha feito o voo de traslado da fábrica a Fortaleza e estava amplamente coberto pelo respectivo seguro aeronáutico.

Horas depois recebi um telefonema de um amigo (rico empresário que me confiava suas compras de aviões) perguntando-me se o avião estava segurado. Respondi agradecendo o interesse e dizendo que sim; ele se mostrou contente, dizendo que se fosse dele não estaria. Comentei que ele não sentiria falta e compraria outro, mas eu não poderia suportar o prejuízo. O fato reforçou minha convicção de que “gerir é prever para prover” e que seguro é indispensável.

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1º avião vendido
Foto abaixo
                    
               
PIPER  PA-22  Tripacer     -     PT-BPL   -    1961
Comprador: James Kelso Clark Nunes    -    Fortaleza - CE

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24º e o 25º aviões vendidos
Fotos abaixo

WREN 460     -     PT-DCV e PT-DCX   -    1968
Comprador: CAEEB – Rio de Janeiro – destinados à
Cia. Paulista de Força e Luz – São Paulo

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50º avião vendido  
Foto abaixo

 EMBRAER-PIPER EMB-710 Carioca   -  PT-NCA  -  1975 
Construtora Queiroz Galvão S.A.   -    Fortaleza

Antes  - em 1966 - tivemos o prazer de vender ao mesmo cliente dois aviões Cessna Skylane 182-K (PT-CZS e PT-CZT)  - 1 para Fortaleza e 1 para Recife.


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75º e o 76º avião vendido

EMBRAER-PIPER EMB-721 Sertanejo  -  PT-ELS - 1977
EMB-810 Seneca – PT-EJK -  1977
Manoel S. Chaves Comércio de Cacau Ltda. - Itabuna - BA
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                                                  100º avião vendido

EMBRAER-PIPER EMB-711 Corisco – PT-RCR – 1982
Geraldo José Câmara Melo  -  Natal - RN 
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150º avião vendido
Foto abaixo

EMBRAER-PIPER EMB-810 Seneca III   -  PT-VPG – 1989
Edivaldo Lacerda de Andrade  -  Bacabal - MA

Antes  - em 1983, 1985 e 1986 - tivemos o prazer de vender ao mesmo cliente   os seguintes aviões: Carioca PT-RSF; Corisco PT-RZD e Seneca PT-VEA

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 Homenagem póstuma a um cliente que se tornou um amigo

Edivaldo Lacerda de Andrade
                                                                                   
Várias vezes o Edivaldo revelou que a consideração era, para ele, o mais importante fator de relacionamento pessoal. Acho que ele percebeu que eu e meu filho, Mauro, tínhamos grande consideração para com ele, aliás merecida.
Um exemplo foi o meu comparecimento à festa de inauguração das novas instalações de sua empresa em Bacabal (MA) no dia 22.6.1990. Saí de Fortaleza num avião comercial para Teresina, de onde eu e outros dois convidados voamos a Bacabal num avião executivo dele; no dia seguinte ele mandou seu piloto, Joaquim, me deixar em São Luís, onde embarquei num avião comercial para Fortaleza.
Com antecedência encomendei uma maquete do último avião comprado pelo Edivaldo, para lhe presentear durante a solenidade, quando fiz um breve discurso. As fotos abaixo registram aquela memorável ocasião.
 

O referido amigo, que era diabético, faleceu precocemente, do coração, tendo antes sofrido a amputação das duas pernas. Ele deixou, além de saudade, a lembrança de um homem inteligente, trabalhador e idealista, que percebeu e comprovou que o dinheiro investido em um avião (técnica e economicamente adequado) volta voando para seu proprietário.


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Fim da postagem 4/6 da parte TRABALHO

Continua em  TRABALHO - 5/6

Um comentário:

  1. What great and rich history on NE Brazil´s aviation! I remember well my dad and I examining one of the Wrens and being intrigued by the canards on the front. I remember my dad not being very impressed because the base plane was a Cessna and not a Piper. Great history, great testimony, great life
    Forte Abraço,
    Tim Reiner

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