REFLEXÕES
SOBRE FATOS LAMENTÁVEIS QUE MARCARAM O PASSADO PODERÃO AJUDAR A PREVENIR A
REPETIÇÃO, NO PRESENTE, DE INICIATIVAS QUE PODERÃO RESULTAR EM PREJUÍZOS E
SOFRIMENTOS AINDA MAIORES NO FUTURO.
ECO
DE UMA TRAGÉDIA NO MAR
O 75º aniversário de uma tragédia fez ecoar em minha mente o lamentável
fato, motivando-me a lançar um pouco de luz sobre um assunto cujas provas jazem
na escuridão do fundo do mar: em 2 de Março de 1943 o navio Affonso Penna foi torpedeado e afundou
causando a morte de 125 pessoas!
Ele transportava 242 passageiros e tripulantes e, enquanto navegava no
litoral da Bahia, foi cruelmente abatido. Descrevendo uma cena da horrorosa tragédia, o escritor
Roberto Sander diz no livro “O Brasil na mira de Hitler”:
“Os relatos dos sobreviventes revelam momentos de
terrível sofrimento para alguns náufragos. Depois do torpedeamento, com a
confusão reinante a bordo, foi impossível parar as máquinas. A proa do navio
começou a afundar e as baleeiras arriadas acabaram deslizando ao longo do
costado do barco até chegar às hélices ainda em movimento. Muitos dos que
tentavam se salvar morreram retalhados.”
O mais lamentado e comovente torpedeamento, porém, foi o do navio Baependi, que causou a morte de 270
pessoas. Ele ocorreu no auge da ação do inimigo - em Agosto de 1942, quando, em
apenas cinco dias, 6 navios brasileiros foram torpedeados, causando 607 mortes...!
A razão pela qual o
Affonso Penna é, para mim, um símbolo das tragédias marítimas do tempo de
minha juventude, é a seguinte: quando eu tinha dez anos tive a felicidade de
desfrutar de dez dias (agradáveis e inesquecíveis) viajando nele, como se vê na
foto ao lado. Foi em Fevereiro de 1938, isto é, há exatamente 80 anos!
No livro “Compartilhando Riquezas de Vida” (publicado em 2014), sob o
título “Naufrágios que deixaram marcos e marcas” escrevi sobre os navios
brasileiros vitimados e também outros, fazendo comentários sobre os mesmos e suas
épocas.
Em 9.7.2017 postei neste blog o capítulo “Marcos e marcas de naufrágios”
contendo um resumo do que escrevi naquele livro. Agora, em Fevereiro de 2018,
divulgo novamente o assunto para convidar à leitura pessoas que eventualmente
tenham interesse em tomar conhecimento de algo a respeito do mesmo.
Abro um
parêntese: No
ano anterior - 1941 - os brasileiros, sentindo os efeitos da 2ª Guerra Mundial - agravada
com o ataque japonês aos americanos (7.12.1941 em Pearl Harbor) - já haviam constatado
a necessidade do país deixar a neutralidade e entrar de corpo e alma na luta do
bem contra o mal.
Autorizado pelo Presidente Getúlio Vargas, o chanceler Oswaldo Aranha
organizou a III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das
Repúblicas Americanas, conhecida como Conferência dos Chanceleres; ela foi realizada no Rio de Janeiro entre 19 e
28.1.1942. Nesse dia a imensa maioria dos chanceleres concordou em romper
relações diplomáticas com os países do “Eixo” (Alemanha, Itália e Japão). A unidade
continental ficou estabelecida, apesar de Argentina e Chile não haverem
aderido.
Os Embaixadores do Brasil em Berlim
e Tóquio e o encarregado de negócios em Roma receberam ordens para comunicar
oficialmente a decisão aos respectivos governos. No Japão a ordem foi cumprida
por Frederico Castelo Branco Clark, que era o Embaixador do Brasil quando tudo
isso aconteceu. Ele era meu tio (irmão de Mamãe) e minha admiração por ele
reforçava meu sonho de seguir a carreira diplomática, na qual ele tanto brilhou. Fecho o parêntese.
Comparadas com o que aconteceu no mundo, as
ocorrências no Brasil são apenas uma pequena amostra, pois durante a 2ª Guerra
Mundial foram afundados 2.603 navios dos países “Aliados”, causando a morte de
mais de 40.000 pessoas.
É incomensurável a importância econômica, social e
militar da preciosíssima carga - em quantidade gigantesca - que não chegou aos
destinos desejados, vindo a terminar no fundo dos mares.
Quando o Affonso Penna foi
torpedeado meu irmão mais velho - Frederico Clark Nunes - estava se
especializando em patrulhamento e combate a submarinos - na base aeronaval da
Marinha Americana em Corpus Christi, Texas. No ano seguinte, 1944, ele realizou
inúmeras missões no comando de um avião anfíbio
“Catalina”, como parte do grande e eficaz esforço da FAB em neutralizar os mortíferos
e traiçoeiros submarinos alemães e italianos que tentavam inviabilizar a
navegação marítima brasileira. Na 1ª foto vê-se o avião pilotado pelo Fred,
tirada por um colega voando ao seu lado; na 2ª , que eu tirei, ele é visto na
cabine de um avião igual, no Museu de Aeronáutica.
Abro um parêntese: Os dois Fredericos
descendem de James Frederick Clark, que era pai do Embaixador e avô do Aviador.
O 1º era o primogênito de meus avós e o 2º era o primogênito de meus pais. Fecho o
parêntese.
Observação importante: nos primeiros anos a Alemanha várias
vezes comemorou a ação fulminante de sua grandiosa frota de submarinos,
antecipando uma esperada vitória final contra inimigos que não poderiam
resistir à invisível arma que infestava os mares. Graças a Deus, porém, as
indústrias aeronáuticas americana e inglesa foram paulatinamente produzindo
aviões adequados a combater submarinos, diminuindo significativamente o seu
poder destrutivo. O próprio Winston Churchill, em certa ocasião, realçou o
inestimável papel exercido por aviões e aviadores nos anos subsequentes,
conseguindo livrar de tal perigo os navios indispensáveis para o esforço de
guerra dos Aliados e a vitória final.
Meu objetivo ao aproveitar a modernidade da Internet para fazer ecoar um
assunto antigo como este é, simplesmente, alertar as novas gerações, pois tenho
a seguinte convicção: reflexões sobre
fatos lamentáveis que marcaram o Passado poderão ajudar a prevenir a repetição,
no Presente, de iniciativas que possam resultar em prejuízos e sofrimentos
ainda maiores no Futuro.
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