quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

ECO DE UMA TRAGÉDIA NO MAR

REFLEXÕES SOBRE FATOS LAMENTÁVEIS QUE MARCARAM O PASSADO PODERÃO AJUDAR A PREVENIR A REPETIÇÃO, NO PRESENTE, DE INICIATIVAS QUE PODERÃO RESULTAR EM PREJUÍZOS E SOFRIMENTOS AINDA MAIORES NO FUTURO.


ECO DE UMA TRAGÉDIA NO MAR

O 75º aniversário de uma tragédia fez ecoar em minha mente o lamentável fato, motivando-me a lançar um pouco de luz sobre um assunto cujas provas jazem na escuridão do fundo do mar: em 2 de Março de 1943 o navio Affonso Penna foi torpedeado e afundou causando a morte de 125 pessoas!

Ele transportava 242 passageiros e tripulantes e, enquanto navegava no litoral da Bahia, foi cruelmente abatido. Descrevendo uma cena da horrorosa tragédia, o escritor Roberto Sander diz no livro “O Brasil na mira de Hitler”:
“Os relatos dos sobreviventes revelam momentos de terrível sofrimento para alguns náufragos. Depois do torpedeamento, com a confusão reinante a bordo, foi impossível parar as máquinas. A proa do navio começou a afundar e as baleeiras arriadas acabaram deslizando ao longo do costado do barco até chegar às hélices ainda em movimento. Muitos dos que tentavam se salvar morreram retalhados.” 


 Esse navio simboliza, para mim, o momento histórico que o Brasil viveu entre Março de 1941 e Julho de 1944, quando 34 navios (32 mercantes, 1 pesqueiro e 1 de guerra) foram afundados - causando 1.081 mortes!


O mais lamentado e comovente torpedeamento, porém, foi o do navio Baependi, que causou a morte de 270 pessoas. Ele ocorreu no auge da ação do inimigo - em Agosto de 1942, quando, em apenas cinco dias, 6 navios brasileiros foram torpedeados, causando 607 mortes...!


A razão pela qual o Affonso Penna é, para mim, um símbolo das tragédias marítimas do tempo de minha juventude, é a seguinte: quando eu tinha dez anos tive a felicidade de desfrutar de dez dias (agradáveis e inesquecíveis) viajando nele, como se vê na foto ao lado. Foi em Fevereiro de 1938, isto é, há exatamente 80 anos! 

No livro “Compartilhando Riquezas de Vida” (publicado em 2014), sob o título “Naufrágios que deixaram marcos e marcas” escrevi sobre os navios brasileiros vitimados e também outros, fazendo comentários sobre os mesmos e suas épocas.

Em 9.7.2017 postei neste blog o capítulo “Marcos e marcas de naufrágios” contendo um resumo do que escrevi naquele livro. Agora, em Fevereiro de 2018, divulgo novamente o assunto para convidar à leitura pessoas que eventualmente tenham interesse em tomar conhecimento de algo a respeito do mesmo.

Abro um parêntese:            No ano anterior - 1941 - os brasileiros, sentindo os efeitos da 2ª Guerra Mundial - agravada com o ataque japonês aos americanos (7.12.1941 em Pearl Harbor) - já haviam constatado a necessidade do país deixar a neutralidade e entrar de corpo e alma na luta do bem contra o mal.
Autorizado pelo Presidente Getúlio Vargas, o chanceler Oswaldo Aranha organizou a III Reunião de Consulta dos Ministros das Relações Exteriores das Repúblicas Americanas, conhecida como Conferência dos Chanceleres; ela foi  realizada no Rio de Janeiro entre 19 e 28.1.1942. Nesse dia a imensa maioria dos chanceleres concordou em romper relações diplomáticas com os países do “Eixo” (Alemanha, Itália e Japão). A unidade continental ficou estabelecida, apesar de Argentina e Chile não haverem aderido.
            Os Embaixadores do Brasil em Berlim e Tóquio e o encarregado de negócios em Roma receberam ordens para comunicar oficialmente a decisão aos respectivos governos. No Japão a ordem foi cumprida por Frederico Castelo Branco Clark, que era o Embaixador do Brasil quando tudo isso aconteceu. Ele era meu tio (irmão de Mamãe) e minha admiração por ele reforçava meu sonho de seguir a carreira diplomática, na qual ele tanto brilhou.    Fecho o parêntese.        

Comparadas com o que aconteceu no mundo, as ocorrências no Brasil são apenas uma pequena amostra, pois durante a 2ª Guerra Mundial foram afundados 2.603 navios dos países “Aliados”, causando a morte de mais de 40.000 pessoas.

É incomensurável a importância econômica, social e militar da preciosíssima carga - em quantidade gigantesca - que não chegou aos destinos desejados, vindo a terminar no fundo dos mares.

Quando o Affonso Penna foi torpedeado meu irmão mais velho - Frederico Clark Nunes - estava se especializando em patrulhamento e combate a submarinos - na base aeronaval da Marinha Americana em Corpus Christi, Texas. No ano seguinte, 1944, ele realizou inúmeras  missões no comando de um avião anfíbio “Catalina”, como parte do grande e eficaz esforço da FAB em neutralizar os mortíferos e traiçoeiros submarinos alemães e italianos que tentavam inviabilizar a navegação marítima brasileira. Na 1ª foto vê-se o avião pilotado pelo Fred, tirada por um colega voando ao seu lado; na 2ª , que eu tirei, ele é visto na cabine de um avião igual, no Museu de Aeronáutica.

Abro um parêntese:    Os dois Fredericos descendem de James Frederick Clark, que era pai do Embaixador e avô do Aviador. O 1º era o primogênito de meus avós e o 2º era o primogênito de meus pais.   Fecho o parêntese.

Observação importante: nos primeiros anos a Alemanha várias vezes comemorou a ação fulminante de sua grandiosa frota de submarinos, antecipando uma esperada vitória final contra inimigos que não poderiam resistir à invisível arma que infestava os mares. Graças a Deus, porém, as indústrias aeronáuticas americana e inglesa foram paulatinamente produzindo aviões adequados a combater submarinos, diminuindo significativamente o seu poder destrutivo. O próprio Winston Churchill, em certa ocasião, realçou o inestimável papel exercido por aviões e aviadores nos anos subsequentes, conseguindo livrar de tal perigo os navios indispensáveis para o esforço de guerra dos Aliados e a vitória final.

Meu objetivo ao aproveitar a modernidade da Internet para fazer ecoar um assunto antigo como este é, simplesmente, alertar as novas gerações, pois tenho a seguinte convicção: reflexões sobre fatos lamentáveis que marcaram o Passado poderão ajudar a prevenir a repetição, no Presente, de iniciativas que possam resultar em prejuízos e sofrimentos ainda maiores no Futuro. 


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente