quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

MARAVILHAS DA CRIAÇÃO


As transformações impostas por Deus atingem a todos, como ocorre com as estações do ano. Ao ver  meus bisnetos às vezes penso em meus saudosos pais, que também  tiveram bisavós e foram crianças.                                                    

MARAVILHAS DA CRIAÇÃO

 Há poucos anos um cirurgião extraiu de minha coxa direita um sinal antigo que regredia com medicamentos tópicos mas voltava, motivando o dermatologista a recomendar o procedimento  adotado. Ao final só pude ver a cobertura de gaze com micropore, que cobria totalmente o corte e a costura dos pontos. No dia seguinte, quando minha esposa retirou aquela proteção para fazer o curativo, o que vi encravado em minha pele parecia um embuá, medindo uns oito centímetros de comprimento.
No meu tempo de menino brinquei com alguns deles, que se enrolavam e ficavam paralisados quando tocados por um objeto. Procurando hoje por uma ilustração num dicionário, encontrei um bicho chamado escolopendra, descrito como  “gênero de animais articulados da classe dos miriápodes, com 21 a 23 pares de patas, e que possui quatro pares de olhos” -  também conhecido como centopéia. 
Pensei na inconveniência de ficar carimbado com esse desenho, como uma espécie de tatuagem, mas a cada curativo diário eu percebia o esmaecimento da indesejável e estranha figura. Depois de uma semana o cirurgião retirou os pontos, ficando meu embuá sem as muitas patas que o caracterizavam. O aspecto do ferimento ia se modificando diariamente.
O curioso processo me fez lembrar de algo semelhante que ficou gravado em minha mente: um marco cronológico (meus nove anos) e uma marca sentimental (pena de meu irmão mais velho). O querido Fred teve o antebraço esquerdo rasgado numa queda de motocicleta. Fiquei horrorizado no início, mas tive de suportar. Com o passar dos dias, porém, fui ficando maravilhado com a cicatrização.
Eu perguntava a mim mesmo como pode um ferimento diminuir automaticamente. A percepção de que uma força invisível atuava no braço de meu irmão me levou a questionar (só em pensamento) sobre o seguinte fenômeno: quem haveria de interromper o crescimento da nova carne e da nova pele que lentamente iam substituindo a ferida? Eu raciocinava que em determinado instante, quando o ferimento estivesse totalmente refeito, o organismo teria de paralisar a fantástica recuperação; mas exatamente como isso haveria de acontecer?     
Transcorridos 81 anos, vendo o mesmo processo atuando em meu corpo, apesar de em escala bem menor, encontro as respostas aos questionamentos que guardei na mente: as criaturas de Deus vem equipadas com dispositivos que só funcionam se e quando necessário. Alguns exemplos me vêm à mente:
Dores são sentidas quando anormalidades surgem no organismo; um dentista me disse que “a dor é um presente de Deus”, pois sem ela dificilmente alguém procuraria tratamento, ignorando que estava precisando se proteger.  Febre não é doença, mas, sim, indicação de uma alteração da saúde, que requer tratamento e indica a evolução do mesmo, se houver. Lágrimas existem e são necessárias aos olhos, mas são produzidas em quantidade acima do necessário em momentos de grande emoção, causando um extravasamento no choro.    
Outro exemplo de extraordinária importância é o efeito de um hormônio que surge em situações extremas – a adrenalina! Ele é “segregado pela porção medular das glândulas suprarrenais”. Para ilustrar um caso digno de reflexão, tentarei reproduzir com minhas palavras um episódio emocionante a respeito do qual li há muito tempo, não sei em que revista.
Aconteceu com David  Livingstone, médico escocês que foi missionário cristão e dedicou a vida a explorar a África, onde em 1873 faleceu aos 60 anos, entrando para a História como o primeiro europeu a cruzar o continente africano de Leste a Oeste. É o seguinte: ele não se conformava e, por isso, intimamente questionava a Deus por consentir que um pequeno animal, apavorado e indefeso, sofresse tanto ao ser perseguido, atacado e devorado por um grande predador. Até o dia em que ele foi surpreendido por um leão ou outro felídio que, saltando de uma árvore, arrancou um de seus ombros. O grande explorador sofreu muito com o enorme ferimento, mas só depois do ataque de que foi alvo e que veio acompanhado de adrenalina em dose proporcional ao tamanho do pavor que ele sentiu no instante em que se viu prestes a ser devorado vivo...! Segundos antes de ferir sua vítima, em pleno salto o animal foi atingido por um tiro disparado pelo guia africano e caiu morto perto deles. O terrível incidente serviu como resposta à sua dúvida, pois ele nada sentiu na hora! Sendo médico, entendeu  que assim como a adrenalina o protegeu de dor, o Criador também protege os pequenos animais tornando-os imunes ao sofrimento enquanto são devorados...!
O abençoado hormônio criado por Deus é conservado como uma reserva guardada em Suas criaturas e só é liberado quando necessário. A adrenalina acelera o ritmo cardíaco, aumenta a pressão arterial, dilata os brônquios, etc., para atingir o objetivo no momento exato – segundo dizem os médicos.
Refletindo sobre o assunto, acho que os ateus não concordam com o Dr. Livingstone. Talvez eles pensem que o maravilhoso mecanismo da adrenalina não opera segundo a determinação do Criador, sendo, para quem não crê em Deus, apenas o resultado de fenômenos científicos originados desde a explosão cósmica conhecida por “Big Bang”!  
Para gente da minha geração eu diria que o absurdo desse pensamento equivale a acreditar que um dicionário pode ser o produto da explosão de uma tipografia. Aos leitores jovens esclareço que tipografia era a oficina em que as impressões eram feitas, utilizando-se objetos metálicos (formas) com letras e números em alto relevo que eram individualmente agrupados e, fixados a uma chapa, recebiam a tinta que seria prensada sobre os papéis.
 Para pessoas das novas gerações deixo de lado a velha tipografia e o clássico dicionário e digo que o absurdo daquele pensamento equivale a acreditar que um livro pode ser resultante da fusão da “memória” contida no hardware do computador com os programas de software baixados nele e impresso em cores liberadas por uma impressora, tudo em decorrência dos átomos envolvidos naquela imaginária fusão...
Voltando agora à cicatrização do horrível corte que inicialmente parecia um embuá, dou graças a Deus por tudo que me tem acontecido em 90 anos de existência, ao longo dos quais observei as mudanças físicas da criança que eu era e do velho que eu sou.
Acompanhei também as transformações de meu pai, um homem vigoroso que a idade foi lentamente transformando num ancião com a fraqueza natural de quem, mesmo em plena lucidez, chega aos 97 anos – quando faleceu. Tive igualmente a oportunidade de apreciar a beleza física de minha jovem mãe gradualmente sendo substituída pela beleza de seus gestos e suas atitudes, até ela, lúcida, falecer aos 90 anos.
Tenho consciência de que, palmilhando o caminho natural dos homens, estou me aproximando do dia em que também haverei de falecer. Tal certeza não me preocupa, porém, pois há 37 anos fui alvo do amor de  Deus, que misericordiosamente me concedeu a graça da fé em Seu Filho, Jesus Cristo, que me salvou para a vida eterna. Ele mesmo disse:  “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente.” (João 11.25-26)
Por esse motivo, confiantemente prossigo minha caminhada terrena vivenciando o que diz a Bíblia numa carta do apóstolo Paulo aos Coríntios (2 Co 4.16-18): “... não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se não vêem; porque as que se vêem são temporais,e as que se não vêem são eternas.”
As pessoas que não creem em Deus, preferindo crer no “Big Bang”,  não estão isentas de perceber as transformações que atingem a todos, desde o nascimento até a morte. As pessoas que foram salvas pela graça da fé em Cristo percebem de igual modo, mas felizmente podem se deleitar com a verdade contida na seguinte passagem bíblica (1 Co 2.9): “Nem  olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”
Contemplando meus bisnetos (fotos: Dez. 2015, eu aos 87;  Nov. 2017, eu aos 90)  às vezes penso em meus saudosos pais.

 Eles também tiveram bisavós e foram crianças, mas gradualmente cresceram e lentamente envelheceram; ninguém escapa do quase imperceptível mas ininterrupto e  admirável processo transformador que caracteriza a maravilhosa criação de Deus, inclusive repetindo Primavera, Verão, Outono e Inverno - a cada ano!

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