As
transformações impostas por Deus atingem a todos, como ocorre com as estações
do ano. Ao ver meus bisnetos às vezes
penso em meus saudosos pais, que também tiveram
bisavós e foram crianças.
MARAVILHAS
DA CRIAÇÃO
Há poucos anos um cirurgião
extraiu de minha coxa direita um sinal antigo que regredia com medicamentos
tópicos mas voltava, motivando o dermatologista a recomendar o procedimento adotado. Ao final só pude ver a cobertura de
gaze com micropore, que cobria totalmente o corte e a costura dos pontos. No dia
seguinte, quando minha esposa retirou aquela proteção para fazer o curativo, o
que vi encravado em minha pele parecia um embuá, medindo uns oito centímetros
de comprimento.
No meu tempo de menino
brinquei com alguns deles, que se enrolavam e ficavam paralisados quando tocados
por um objeto. Procurando hoje por uma ilustração num dicionário, encontrei um
bicho chamado escolopendra, descrito
como “gênero de animais articulados da
classe dos miriápodes, com 21 a 23 pares de patas, e que possui quatro pares de
olhos” - também conhecido como centopéia.
Pensei na inconveniência de
ficar carimbado com esse desenho, como uma espécie de tatuagem, mas a cada curativo
diário eu percebia o esmaecimento da indesejável e estranha figura. Depois de uma
semana o cirurgião retirou os pontos, ficando meu embuá sem as muitas patas que
o caracterizavam. O aspecto do ferimento ia se modificando diariamente.
O curioso processo me fez
lembrar de algo semelhante que ficou gravado em minha mente: um marco cronológico
(meus nove anos) e uma marca sentimental (pena de meu irmão mais velho).
O querido Fred teve o antebraço esquerdo rasgado numa queda de motocicleta.
Fiquei horrorizado no início, mas tive de suportar. Com o passar dos dias, porém,
fui ficando maravilhado com a cicatrização.
Eu perguntava a mim mesmo
como pode um ferimento diminuir automaticamente. A percepção de que uma força
invisível atuava no braço de meu irmão me levou a questionar (só em pensamento)
sobre o seguinte fenômeno: quem haveria de interromper o crescimento da nova carne
e da nova pele que lentamente iam substituindo a ferida? Eu raciocinava que em
determinado instante, quando o ferimento estivesse totalmente refeito, o
organismo teria de paralisar a fantástica recuperação; mas exatamente como isso
haveria de acontecer?
Transcorridos 81 anos, vendo
o mesmo processo atuando em meu corpo, apesar de em escala bem menor, encontro
as respostas aos questionamentos que guardei na mente: as criaturas de Deus vem
equipadas com dispositivos que só funcionam se e quando necessário. Alguns
exemplos me vêm à mente:
Dores são sentidas quando anormalidades
surgem no organismo; um dentista me disse que “a dor é um presente de Deus”,
pois sem ela dificilmente alguém procuraria tratamento, ignorando que estava
precisando se proteger. Febre não é
doença, mas, sim, indicação de uma alteração da saúde, que requer tratamento e
indica a evolução do mesmo, se houver. Lágrimas existem e são necessárias aos olhos,
mas são produzidas em quantidade acima do necessário em momentos de grande emoção,
causando um extravasamento no choro.
Outro exemplo de
extraordinária importância é o efeito de um hormônio que surge em situações
extremas – a adrenalina! Ele é “segregado pela porção medular das glândulas
suprarrenais”. Para ilustrar um caso digno de reflexão, tentarei reproduzir com
minhas palavras um episódio emocionante a respeito do qual li há muito tempo,
não sei em que revista.
Aconteceu com David Livingstone, médico escocês que foi missionário
cristão e dedicou a vida a explorar a África, onde em 1873 faleceu aos 60 anos,
entrando para a História como o primeiro europeu a cruzar o continente africano
de Leste a Oeste. É o seguinte: ele não se conformava e, por isso, intimamente questionava
a Deus por consentir que um pequeno animal, apavorado e indefeso, sofresse
tanto ao ser perseguido, atacado e devorado por um grande predador. Até o dia em
que ele foi surpreendido por um leão ou outro felídio que, saltando de uma
árvore, arrancou um de seus ombros. O grande
explorador sofreu muito com o enorme ferimento, mas só depois do ataque de que foi
alvo e que veio acompanhado de adrenalina em dose proporcional ao tamanho do pavor
que ele sentiu no instante em que se viu prestes a ser devorado vivo...! Segundos
antes de ferir sua vítima, em pleno salto o animal foi atingido por um tiro
disparado pelo guia africano e caiu morto perto deles. O terrível incidente serviu
como resposta à sua dúvida, pois ele nada sentiu na hora! Sendo médico, entendeu que assim como a adrenalina o protegeu de dor,
o Criador também protege os pequenos animais tornando-os imunes ao sofrimento
enquanto são devorados...!
O abençoado hormônio criado
por Deus é conservado como uma reserva guardada em Suas criaturas e só é liberado
quando necessário. A adrenalina acelera o ritmo cardíaco, aumenta a pressão
arterial, dilata os brônquios, etc., para atingir o objetivo no momento exato –
segundo dizem os médicos.
Refletindo sobre o assunto,
acho que os ateus não concordam com o Dr. Livingstone. Talvez eles pensem que o
maravilhoso mecanismo da adrenalina não opera segundo a determinação do
Criador, sendo, para quem não crê em Deus, apenas o resultado de fenômenos
científicos originados desde a explosão cósmica conhecida por “Big Bang”!
Para gente da minha geração
eu diria que o absurdo desse pensamento equivale a acreditar que um dicionário
pode ser o produto da explosão de uma tipografia. Aos leitores jovens esclareço
que tipografia era a oficina em que as impressões eram feitas, utilizando-se
objetos metálicos (formas) com letras e números em alto relevo que eram individualmente
agrupados e, fixados a uma chapa, recebiam a tinta que seria prensada sobre os
papéis.
Para pessoas das novas gerações deixo de lado
a velha tipografia e o clássico dicionário e digo que o absurdo daquele
pensamento equivale a acreditar que um livro pode ser resultante da fusão da “memória”
contida no hardware do computador com os programas de software baixados nele e impresso
em cores liberadas por uma impressora, tudo em decorrência dos átomos envolvidos
naquela imaginária fusão...
Voltando agora à
cicatrização do horrível corte que inicialmente parecia um embuá, dou graças a
Deus por tudo que me tem acontecido em 90 anos de existência, ao longo dos quais
observei as mudanças físicas da criança que eu era e do velho que eu sou.
Acompanhei também as
transformações de meu pai, um homem vigoroso que a idade foi lentamente transformando
num ancião com a fraqueza natural de quem, mesmo em plena lucidez, chega aos 97
anos – quando faleceu. Tive igualmente a oportunidade de apreciar a beleza
física de minha jovem mãe gradualmente sendo substituída pela beleza de seus
gestos e suas atitudes, até ela, lúcida, falecer aos 90 anos.
Tenho consciência de que, palmilhando
o caminho natural dos homens, estou me aproximando do dia em que também haverei
de falecer. Tal certeza não me preocupa, porém, pois há 37 anos fui alvo do
amor de Deus, que misericordiosamente me
concedeu a graça da fé em Seu Filho, Jesus Cristo, que me salvou para a vida
eterna. Ele mesmo disse: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em
mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá,
eternamente.” (João 11.25-26)
Por esse motivo, confiantemente
prossigo minha caminhada terrena vivenciando o que diz a Bíblia numa carta do
apóstolo Paulo aos Coríntios (2 Co 4.16-18): “... não desanimamos; pelo contrário, mesmo que o nosso homem exterior
se corrompa, contudo, o nosso homem interior se renova de dia em dia. Porque a
nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima
de toda comparação, não atentando nós nas coisas que se vêem, mas nas que se
não vêem; porque as que se vêem são temporais,e as que se não vêem são
eternas.”
As pessoas que não creem em
Deus, preferindo crer no “Big Bang”, não
estão isentas de perceber as transformações que atingem a todos, desde o nascimento
até a morte. As pessoas que foram salvas pela graça da fé em Cristo percebem de
igual modo, mas felizmente podem se deleitar com a verdade contida na seguinte passagem
bíblica (1 Co 2.9): “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais
penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam.”
Contemplando meus bisnetos
(fotos: Dez. 2015, eu aos 87; Nov. 2017,
eu aos 90) às vezes penso em meus saudosos
pais.
Eles também tiveram bisavós
e foram crianças, mas gradualmente cresceram e lentamente envelheceram; ninguém
escapa do quase imperceptível mas ininterrupto e admirável processo transformador que
caracteriza a maravilhosa criação de Deus, inclusive repetindo Primavera,
Verão, Outono e Inverno - a cada ano!
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