quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Meu pai

O centenário do nascimento de meu saudoso pai foi comemorado no dia 12.4.1996 na casa de minha irmã Sônia e meu cunhado José Amorim Rêgo, em São Paulo. Tendo eu e Carminha chegado lá na véspera, tivemos o prazer de participar do jantar oferecido pelo querido casal a diletos parentes e amigos. Entre eles estava o que tem a honra de ser chamado Celso Augusto de Moura Nunes Neto. Com certeza meu pai diria que a recíproca é verdadeira, pois era honroso ser avô daquele neto. Este meu sobrinho incorporou belas qualidades de seus próprios pais - minha irmã Ena e meu cunhado Raimundo Mendes de Carvalho.                                                                                                                                     
Em 2013, quando meu pai faria 117 anos se vivo fosse, telefonei para aquele sobrinho (meu afilhado Celso Neto - residente em Campinas) e lhe manifestei o desejo de ouvir a voz de um Celso. Ele gostou da iniciativa, trocamos ideias sobre a velocidade com que a vida passa e recordamos a citada comemoração dos 100 anos do nascimento de Papai.
Parece ter sido há pouco tempo que o vi, chorando, ao colocar um lenço sobre a sepultura de Mamãe, para beijá-la; mas ele faleceu há 23 anos, e ela há 27...!
Recentemente participei de um evento em que amigos enalteceram as memórias de seus pais, tanto o promotor como o homenageado. E na mesa em que jantei, um dos convidados fez elogiosas referências ao meu pai. Voltei sensibilizado pelas lembranças de pessoas que hoje só existem nos corações dos que ainda vivem.
Em 2014 escrevi, no livro “Compartilhando Riquezas de Vida”, dois capítulos sobre meu saudoso pai: “Carnaubeira do Piauí com raízes no Ceará” e “Meu Pai e a Navegação Aérea”.  Esperando que eles possam ser úteis a leitores de novas gerações, atualizei o primeiro (sob o título “Papai”) para postá-lo agora neste blog.
Oportunamente espero fazer o mesmo com o outro.
Meu pai ficou órfão de pai aos quatro anos, no Piauí. Aos oito ele veio de Oeiras para o Crato, para morar com um irmão de sua mãe, Dr. Pedro Paulo da Silva Moura, que era o Juiz de Direito da Comarca.  O menino estudou no Ginásio São José, na Serra do Estêvão e, trazido para Fortaleza, onde veio morar com outro tio, o médico Aurélio de Lavor, estudou no Instituto de Humanidades, do Professor Joaquim Nogueira, e em seguida no Instituto Cearense, do Professor Anacleto de Queiroz. O primeiro tio veio a ser Desembargador, tendo presidido o Tribunal de Justiça do Estado; e o segundo foi Deputado, tendo sido Presidente da Assembleia Legislativa do Ceará. Eles não foram apenas excelentes mestres para o jovem sobrinho; foram verdadeiros pais e exemplos de vida retilínea. E meu pai foi digno do zelo que recebeu de ambos e suas esposas, aos quais soube honrar.
Para sintetizar o que foi a vida de meu pai, escolhi para transcrever a seguir o que consta no verso do diploma que acompanha uma medalha que, desde 1994, tem sido anualmente concedida pelo Distrito 4490 do Rotary International a pessoas que se distinguiram por ações dignas de reconhecimento:
Medalha Celso Nunes do Mérito Rotário

CELSO AUGUSTO DE MOURA NUNES nasceu em 12 de Abril de 1896 - em Oeiras, então capital do Piauí. Órfão de pai, aos oito anos veio residir em Fortaleza, sob os cuidados de um tio, Des. Pedro Paulo da Silva Moura. Atingindo a maioridade, transferiu-se para Parnaíba. Ao longo de três décadas, ali constituiu família e desenvolveu sua atividade de comerciante. Presidiu a Associação Comercial. A Municipalidade o tornou ‘Cidadão Parnaibano’. Escolheu como paradigma o sogro, James Frederick Clark. Em memória deste, o Governo do Estado do Piauí erigiu uma estátua – pelo pioneirismo na exportação da cera de carnaúba.
Em 1948 Celso Nunes expandiu seus negócios para Fortaleza, onde voltou a residir. Além de comerciante exportador e importador, muito contribuiu para  o  desenvolvimento  do  turismo  e  da  aviação. Em meado dos anos 60, porém, atingido por um enfarte, passou gradualmente a desmontar a organização que ele e o filho James Kelso (Jimmy) haviam consolidado no Piauí e no Ceará. Este decidiu, então, limitar sua atividade a Representações Comerciais, especialmente vendas de aviões e helicópteros, ramo em que permanece e no qual granjeou tradição em vários Estados do Nordeste.
Celso Nunes prestou relevantes serviços à comunidade. Foi precursor do movimento rotário em Parnaíba e decano dos rotarianos de Fortaleza. Homem de vasta cultura geral, conheceu numerosos países e sempre cultivou o civismo. Seu nome está inscrito em placa de bronze no Centro Cívico de Parnaíba. Participou ativamente de entidades que dignificam os que através delas propugnam por nobres causas.
Em 1980 recebeu o título de ‘Cidadão Cearense’.
A idade avançada foi um adorno de sua marcante personalidade, sempre disposto a servir aos amigos, ensinar aos moços, conversar com os companheiros, ler, escrever e pesquisar.
Em 1981 o jornalista Lauro Ruiz de Andrade escolheu para Celso Nunes a bela alcunha de “Carnaubeira do Piauí com raízes no Ceará”, em alusão à resistente e pródiga “Árvore da Vida” que caracteriza o Nordeste.
Após 68 anos de feliz vida conjugal, ficou viúvo em Maio de 1989. Sua esposa, Marie Castelo Branco Clark Nunes – filha de pai inglês e mãe piauiense educada em Londres – deixou 6 filhos, 20 netos e 31 bisnetos residentes no Ceará, Piauí, Sul do Brasil e Exterior. Ainda lúcido e ativo aos 97 anos, veio a falecer em Fortaleza, em 18 de Junho de 1993.”
Na homenagem da revista Brasil Rotário (Outubro 1993) destaca-se o seguinte: “Rotariano que por 40 anos não mediu esforços para servir, seu currículo impressiona pela enorme quantidade de feitos e reconhecimentos. Honestidade, capacidade e boa vontade sempre foram suas mais sólidas características. Empresário que muito contribuiu para a aviação e o turismo cearense, seu falecimento ecoou forte na imprensa e nos círculos sociais. O exemplo enriquecedor e dignificante que deixa será seu maior legado.”

Como relatei no capítulo sobre meu pai e a navegação aérea, em 1942 caiu o avião em que ele viajava. Eu tinha apenas 14 anos. Manifestando profunda gratidão a Deus pela Sua misericórdia em livrá-lo da morte, ousei pedir a Ele que desse no mínimo mais 16 anos ao meu pai, até eu completar meus 30.
O tempo continuou a voar. E quando eu já estava com 52 anos,  Deus me concedeu a maravilhosa graça da fé em Seu Filho. O fato está explicado no capítulo “Aconteceu Comigo” do livro acima referido.
Tive a felicidade de acompanhar, até meus 65, o envelhecimento de Papai, que chegou aos 97...! Quando, porém, ele adoeceu, pareceu-me oportuno e necessário dar-lhe o difícil e amargo conselho de, ele mesmo, pedir a Deus que lhe desse uma boa morte.  Estávamos conversando sobre a precariedade de sua saúde, a efemeridade da vida terrena em contraste com a plenitude da eternidade, etc.  Papai, que sempre foi inteligente e permanecia lúcido, concordou. Transcorridos alguns dias, Deus o atendeu. Na noite de 18.6.1993, que haveria de ser a sua última, eu e Carminha fomos vê-lo, acompanhados de um dileto amigo e sua esposa. Ele era um grande médico e levou  uma enfermeira para fazer uma aspiração. Aliviado, Papai conversou um pouco, mas disse estar cansado e pediu para apagar a luz, pois desejava dormir um pouco. Alguns minutos depois, aquele homem que fora tão forte e agora estava tão fraco, dormindo calmamente nos deixou para sempre, de forma imperceptível. Deus realmente lhe deu uma boa morte!
 Em 14.1.2007 a Associação Comercial de Parnaíba, no transcurso do seu 90º aniversário de fundação, homenageou meu pai com um troféu, que o presidente Luiz Sousa Pessoa teve a gentileza de me oferecer como filho e sucessor do homenageado. Com efeito, a firma CELSO NUNES, fundada em Parnaíba, eventualmente veio a ser incorporada pela CLARK NUNES, de Fortaleza. Através dela, sempre tenho procurado honrar  as  tradições  de  meu  avô  James Frederick Clark (que em 1917 foi um dos fundadores daquela Associação) e de meu pai, Celso Augusto de Moura Nunes (que a presidiu nos anos 40).
O troféu tem os seguintes dizeres:

“HONRA AO MÉRITO  -  A Associação Comercial de Parnaíba reconhece os serviços prestados por Celso Nunes (in memoriam) quando Presidente da instituição, que contribuiu para a soma de esforços nestes 90 anos de atividades, sempre gerando benefícios à classe empreendedora e à comunidade parnaibana”

Não pude comparecer à solenidade festiva, mas a pedido do Presidente Luiz Pessoa escrevi algo sobre a figura de meu pai no contexto do comércio piauiense.  Dias depois ele me telefonou dizendo que, na presença do Governador do Estado, a mensagem foi lida e que todos os presentes se levantaram para aplaudir o nome de Celso Nunes. Senti um misto de orgulho e saudade de meu pai e de minha terra natal.

Bodas de Prata


Bodas de Pérola

Bodas de Diamante

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