O centenário do nascimento de meu
saudoso pai foi comemorado no dia 12.4.1996 na casa de minha irmã Sônia e meu
cunhado José Amorim Rêgo, em São Paulo. Tendo eu e Carminha chegado lá na
véspera, tivemos o prazer de participar do jantar oferecido pelo querido casal
a diletos parentes e amigos. Entre eles estava o que tem a honra de ser chamado
Celso Augusto de Moura Nunes Neto. Com certeza meu pai diria que a recíproca é
verdadeira, pois era honroso ser avô daquele neto. Este meu sobrinho incorporou
belas qualidades de seus próprios pais - minha irmã Ena e meu cunhado Raimundo
Mendes de Carvalho.
Em 2013, quando meu pai faria 117
anos se vivo fosse, telefonei para aquele sobrinho (meu afilhado Celso Neto -
residente em Campinas) e lhe manifestei o desejo de ouvir a voz de um Celso.
Ele gostou da iniciativa, trocamos ideias sobre a velocidade com que a vida
passa e recordamos a citada comemoração dos 100 anos do nascimento de Papai.
Parece ter sido há pouco tempo
que o vi, chorando, ao colocar um lenço sobre a sepultura de Mamãe, para
beijá-la; mas ele faleceu há 23 anos, e ela há 27...!
Recentemente participei de um
evento em que amigos enalteceram as memórias de seus pais, tanto o promotor
como o homenageado. E na mesa em que jantei, um dos convidados fez elogiosas
referências ao meu pai. Voltei sensibilizado pelas lembranças de pessoas que
hoje só existem nos corações dos que ainda vivem.
Em 2014 escrevi, no livro
“Compartilhando Riquezas de Vida”, dois capítulos sobre meu saudoso pai:
“Carnaubeira do Piauí com raízes no Ceará” e “Meu Pai e a Navegação
Aérea”. Esperando que eles possam ser
úteis a leitores de novas gerações, atualizei o primeiro (sob o título “Papai”)
para postá-lo agora neste blog.
Oportunamente espero fazer o mesmo com o outro.
Oportunamente espero fazer o mesmo com o outro.
Meu pai ficou órfão de pai aos
quatro anos, no Piauí. Aos oito ele veio de Oeiras para o Crato, para morar com
um irmão de sua mãe, Dr. Pedro Paulo da Silva Moura, que era o Juiz de Direito
da Comarca. O menino estudou no Ginásio
São José, na Serra do Estêvão e, trazido para Fortaleza, onde veio morar com
outro tio, o médico Aurélio de Lavor, estudou no Instituto de Humanidades, do
Professor Joaquim Nogueira, e em seguida no Instituto Cearense, do Professor
Anacleto de Queiroz. O primeiro tio veio a ser Desembargador, tendo presidido o
Tribunal de Justiça do Estado; e o segundo foi Deputado, tendo sido Presidente
da Assembleia Legislativa do Ceará. Eles não foram apenas excelentes mestres
para o jovem sobrinho; foram verdadeiros pais e exemplos de vida retilínea. E
meu pai foi digno do zelo que recebeu de ambos e suas esposas, aos quais soube
honrar.
Para sintetizar o que foi a vida
de meu pai, escolhi para transcrever a seguir o que consta no verso do diploma
que acompanha uma medalha que, desde 1994, tem sido anualmente concedida pelo
Distrito 4490 do Rotary International a
pessoas que se distinguiram por ações dignas de reconhecimento:
Medalha Celso Nunes do Mérito
Rotário
Em 1948 Celso Nunes
expandiu seus negócios para Fortaleza, onde voltou a residir. Além de
comerciante exportador e importador, muito contribuiu para o
desenvolvimento do turismo
e da aviação. Em meado dos anos 60, porém,
atingido por um enfarte, passou gradualmente a desmontar a organização que ele
e o filho James Kelso (Jimmy) haviam consolidado no Piauí e no Ceará. Este
decidiu, então, limitar sua atividade a Representações Comerciais,
especialmente vendas de aviões e helicópteros, ramo em que permanece e no qual
granjeou tradição em vários Estados do Nordeste.
Celso Nunes prestou
relevantes serviços à comunidade. Foi precursor do movimento rotário em
Parnaíba e decano dos rotarianos de Fortaleza. Homem de vasta cultura geral,
conheceu numerosos países e sempre cultivou o civismo. Seu nome está inscrito
em placa de bronze no Centro Cívico de Parnaíba. Participou ativamente de
entidades que dignificam os que através delas propugnam por nobres causas.
Em 1980 recebeu o
título de ‘Cidadão Cearense’.
A idade avançada foi
um adorno de sua marcante personalidade, sempre disposto a servir aos amigos,
ensinar aos moços, conversar com os companheiros, ler, escrever e pesquisar.
Em 1981 o jornalista
Lauro Ruiz de Andrade escolheu para Celso Nunes a bela alcunha de “Carnaubeira
do Piauí com raízes no Ceará”, em alusão à resistente e pródiga “Árvore da
Vida” que caracteriza o Nordeste.
Após 68 anos de feliz
vida conjugal, ficou viúvo em Maio de 1989. Sua esposa, Marie Castelo Branco
Clark Nunes – filha de pai inglês e mãe piauiense educada em Londres – deixou 6
filhos, 20 netos e 31 bisnetos residentes no Ceará, Piauí, Sul do Brasil e
Exterior. Ainda lúcido e ativo aos 97 anos, veio a falecer em Fortaleza, em 18
de Junho de 1993.”
Na homenagem da
revista Brasil Rotário (Outubro 1993) destaca-se o seguinte: “Rotariano que por
40 anos não mediu esforços para servir, seu currículo impressiona pela enorme
quantidade de feitos e reconhecimentos. Honestidade, capacidade e boa vontade
sempre foram suas mais sólidas características. Empresário que muito contribuiu
para a aviação e o turismo cearense, seu falecimento ecoou forte na imprensa e
nos círculos sociais. O exemplo enriquecedor e dignificante que deixa será seu
maior legado.”
Como relatei no capítulo sobre
meu pai e a navegação aérea, em 1942 caiu o avião em que ele viajava. Eu tinha
apenas 14 anos. Manifestando profunda gratidão a Deus pela Sua misericórdia em
livrá-lo da morte, ousei pedir a Ele que desse no mínimo mais 16 anos ao meu
pai, até eu completar meus 30.
O tempo continuou a voar. E
quando eu já estava com 52 anos, Deus me
concedeu a maravilhosa graça da fé em Seu Filho. O fato está explicado no
capítulo “Aconteceu Comigo” do livro acima referido.
Tive a felicidade de acompanhar,
até meus 65, o envelhecimento de Papai, que chegou aos 97...! Quando, porém, ele
adoeceu, pareceu-me oportuno e necessário dar-lhe o difícil e amargo conselho
de, ele mesmo, pedir a Deus que lhe desse uma boa morte. Estávamos conversando sobre a precariedade de
sua saúde, a efemeridade da vida terrena em contraste com a plenitude da
eternidade, etc. Papai, que sempre foi
inteligente e permanecia lúcido, concordou. Transcorridos alguns dias, Deus o
atendeu. Na noite de 18.6.1993, que haveria de ser a sua última, eu e Carminha
fomos vê-lo, acompanhados de um dileto amigo e sua esposa. Ele era um grande
médico e levou uma enfermeira para fazer
uma aspiração. Aliviado, Papai conversou um pouco, mas disse estar cansado e
pediu para apagar a luz, pois desejava dormir um pouco. Alguns minutos depois,
aquele homem que fora tão forte e agora estava tão fraco, dormindo calmamente
nos deixou para sempre, de forma imperceptível. Deus realmente lhe deu uma boa
morte!
Em 14.1.2007 a Associação Comercial de Parnaíba, no transcurso do seu 90º
aniversário de fundação, homenageou meu pai com um troféu, que o presidente
Luiz Sousa Pessoa teve a gentileza de me oferecer como filho e sucessor do
homenageado. Com efeito, a firma CELSO NUNES, fundada em Parnaíba,
eventualmente veio a ser incorporada pela CLARK NUNES, de Fortaleza. Através
dela, sempre tenho procurado honrar
as tradições de
meu avô James Frederick Clark (que em 1917 foi um dos
fundadores daquela Associação) e de meu pai, Celso Augusto de Moura Nunes (que
a presidiu nos anos 40).
O troféu tem os seguintes
dizeres:
“HONRA
AO MÉRITO - A Associação Comercial de Parnaíba reconhece
os serviços prestados por Celso Nunes (in memoriam) quando Presidente da
instituição, que contribuiu para a soma de esforços nestes 90 anos de
atividades, sempre gerando benefícios à classe empreendedora e à comunidade
parnaibana”
Não pude comparecer à solenidade
festiva, mas a pedido do Presidente Luiz Pessoa escrevi algo sobre a figura de
meu pai no contexto do comércio piauiense.
Dias depois ele me telefonou dizendo que, na presença do Governador do
Estado, a mensagem foi lida e que todos os presentes se levantaram para
aplaudir o nome de Celso Nunes. Senti um misto de orgulho e saudade de meu pai
e de minha terra natal.
Bodas
de Prata
Bodas de Pérola
Bodas de Diamante
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