Parte nº 3 deste capítulo.
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Pouca
gente, porém, sabe que antes dele outros notáveis aviadores também tentaram,
sem o desejado sucesso e até pagando com a própria vida o preço de sua audácia.
Menos gente ainda tem conhecimento de um fato interessante no contexto da
experimentação aeronáutica - que torna aquele herói merecedor de imitação, pela
excepcional sagacidade com que tratou o desconhecido e pela admirável prudência
com que agiu diante do imponderável. O fato foi relatado em um artigo que li há
algum tempo. Apesar de não ter anotado o título e a data da revista, gravei na
mente a essência do que ocorreu, e tentarei resumir fielmente a seguir, com
minhas próprias palavras:
Com
antecedência, Lindbergh planejou voar do Pacífico ao Atlântico sobre o
território americano. Ele recebeu pessoalmente na fábrica, na Califórnia, o avião
que encomendara.
Já
voando tarde da noite, e vendo só estrelas, ele percebeu que a potência do motor
estava diminuindo e que, por isso, o avião estava perdendo altura. Se já fosse
sobre o oceano ele poderia descer até o nível do mar sem o risco de uma colisão,
mas ele sabia que embaixo era terra firme e não tinha como localizar os
obstáculos na rota, inclusive montanhas, que não dava para distinguir naquela
escuridão. Ele decidiu manter o avião no rumo previsto e descendo lentamente para
obter a velocidade mínima necessária para prosseguir voando. Mas... até
quando...? Não sei o que ele pensou e nem se pediu a Deus para resolver o
problema que estava acima de sua capacidade. O certo, porém, é que após um certo
tempo a força do motor começou a aumentar, dando ao competente aviador condições
de voar nivelado.
Eventualmente
ele começou a aproveitar para subir um pouco, até à altitude ideal, a do plano
original. Mas aí é que entra o fator que corresponde a uma pesquisa feita “na
marra”, em tempo real. Lindbergh não havia planejado pesquisar o motor do avião,
mas sim experimentar tudo inclusive a navegação em um voo transcontinental,
antes do transoceânico que o aguardava. Lá nas alturas o avião se comportou como
era de esperar, mas não aguentou muito tempo; logo recomeçou a triste realidade
– a potência do motor passou a diminuir. Outra vez o piloto foi forçado a
descer... para não cair. Quando o altímetro indicava que o avião estava muito
baixo, e descendo, eis que o motor novamente readquiriu potência, dando ao piloto
condições de voar nivelado, depois subir, etc., até estabilizar novamente na
altitude ideal.
O
aviador veio a constatar (não sei se naquela ocasião ou posteriormente ao
conversar com engenheiros e mecânicos) o seguinte: voando muitas horas
em altitudes onde o frio é intenso, o vento gelado pode criar uma crosta de
gelo na entrada de ar do carburador, que assim fica cada vez menor, diminuindo
a quantidade de ar que o motor aspira para obter a explosão que gera a força. E o
inverso ocorre ao voar perto do solo, onde o vento quente, degelando a crosta de
gelo no carburador, permite que nele entre o máximo de oxigênio que ele foi
projetado para aspirar.
A “pesquisa” improvisada foi de inestimável utilidade para
Lindbergh, pois ele, ao embarcar em Nova York para enfrentar o desafio de chegar
em Paris, levava na mente a experiência há pouco adquirida. Voando sobre o
oceano, o motor do seu famoso “Spirit of Saint Louis” perdeu potência em
altitudes elevadas e recuperou quando o avião desceu para perto do nível
do mar...; quantas vezes isso ocorreu no longo trajeto não sei, mas o detalhe é irrelevante.
Merece realce a
comprovação de que as leis físicas que regem as forças da natureza não podem ser
desconhecidas pelos seres humanos, especialmente os navegadores e os aviadores.
Credores
da humanidade - Para chegar ao presente
estágio da aviação, a humanidade tornou-se devedora a um grande número de homens
e mulheres (dos quais poucos foram consagrados e muitos permanecem anônimos): inventores que
pesquisaram e, artesanalmente, fizeram aviões; industriais que produziram aeronaves
e aprimoraram seus componentes; pilotos de prova que se arriscaram a
testá-las em voo; aviadores civis e militares que promoveram o uso das
mesmas ao redor do mundo; empresários que se aventuraram a comercializar tais
equipamentos; banqueiros que os financiaram; seguradoras que ofereceram
a proteção adequada; instrutores que ensinaram e treinaram jovens amantes
da aviação; engenheiros e mecânicos que estudaram para proporcionar manutenção preventiva e corretiva aos equipamentos;
empreendedores que organizaram linhas comerciais de transporte aéreo; governos
de nações que se empenharam em legislar, regulamentar e estimular o uso da
aviação militar e civil, construindo aeroportos e serviços de proteção ao voo; passageiros que viabilizaram
o fortalecimento das linhas comerciais e o crescimento da indústria aeronáutica; e muita gente
que incorporou a aviação ao seu modo de viver. Um grupo especial merece nossa reverência
e gratidão: os que perderam suas vidas em atividades aeronáuticas!
O
aperfeiçoamento da aviação, que passou a ser parte integrante do
desenvolvimento social, político e econômico dos povos, também exigiu e continua
exigindo muita saúde, competência, disciplina e amor à arte de voar, por parte
dos bravos seres humanos que, não se conformando em viver somente em terra,
ousam compartilhar com as aves uma parte do seu magnífico habitat.
Aviões
e helicópteros grandes e pequenos, de diferentes tipos e projetados para
finalidades diversas, são produzidos com milhares de peças milimetricamente
elaboradas, porém a “peça” mais importante de uma aeronave é o seu comandante. Nos
ares, o elemento mais precioso a bordo ainda é e continuará sendo uma criatura
de Deus - homem ou mulher.
Oxigênio,
respiração e combustão - Além do comandante e
do combustível, o que as aeronaves mais precisam para voar é do oxigênio
encontrado na atmosfera. Ele é o agente da combustão (da gasolina
ou do querosene que, explodindo internamente, faz girar motores e turbinas)
e também é o agente da respiração (inspiração/expiração do ar nos pulmões).
Na foto
acima (captada por Mauro Clark) vemos um grande avião e uma pequena ave voando
no mesmo rumo e utilizando o mesmo elemento.
Abro
um parêntese - “Garimpar” esse raro flagrante foi um
deleite para mim. Quando o vi pensei logo em ilustrar o que escrevi sobre
oxigênio. Eu estava deliciando a contemplação da extensa, linda e organizada
coleção de fotografias de meu filho Mauro, que me cedeu as que eu viesse a
escolher para ilustrar minhas redações. Acho que ele não é só fotógrafo; é
também caçador e pescador. Como uns tem o dom de caçar e outros o dom de pescar,
sabendo onde, como e quando atingir seus alvos, assim é ele em relação aos seus.
O instrumento de caça e pesca que ele utiliza é apenas uma moderna máquina fotográfica.
O louvável hobby desse pastor, conferencista e escritor formado em engenharia é
ver o que não percebem os olhares não atentos das pessoas que, preocupadas com
outros assuntos, não exercitam a capacidade de apreciar, como ele, a beleza do
cotidiano. Ele aprecia, capta o que há de melhor e compartilha com outros o
fruto de seu trabalho. Fecho o parêntese.
Em
suma, as aeronaves dependem do oxigênio para terem força assim como os homens, as
aves e os animais dependem desse elemento para terem vida...!
Exemplo
expressivo: as quatro turbinas do Airbus A380 ingerem - por segundo - cinco
toneladas (5.000 quilos) de ar, cuja explosão interna produz a força
desejada. (Revista Planet AeroSpace 1/2006).
O
oxigênio aquecido pode ser claramente visto nas latitudes em que o clima é frio
e os aviões deixam um rasto de fumaça, resultante da condensação dos gases
expelidos pela descarga.
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Conversas
nos ares com pessoas em terra - Comunicações
entre pessoas no ar e em terra não existiam nos primórdios da aviação. Quando eu
era menino e passava férias escolares na praia de Amarração, via chegarem pela
manhã as pessoas que lidavam com um esperado hidroavião; ao chegar, ele
ancorava e um bote ia ao seu encontro para receber e embarcar os poucos
passageiros.
Se o avião não aparecesse até o final da
tarde, as pessoas voltavam para Parnaíba (no “carro de linha” da Estrada de
Ferro) e no dia seguinte retornariam, pois algum motivo causou o atraso; ele
certamente apareceria no dia seguinte, a qualquer hora...!
As
comunicações aéreas começaram com a rádio-telegrafia, mediante emissão e
captação de sinais de traços e pontos do “código Morse”, tal como os navios já
utilizavam.
Abro
outro parêntese - Um exemplo histórico é o
pedido de socorro do “Titanic”: em outro navio,
distante, um rádio-telegrafista ouviu os apitos “3 pontos, 3 traços, 3 pontos”(. . . - - - . . . ) representando as
letras S O S (save our souls: salvem
nossas almas), identificou a origem e notificou o comandante, que mudou a rota do
“Carpathia” e foi ao encontro dos
náufragos. Assim, graças ao telégrafo elétrico, ao zelo de um técnico e à
acertada decisão de um comandante, 705 vidas foram salvas quando o maior navio
de passageiros do mundo afundou (em sua viagem inaugural) causando a morte de
1.523 pessoas - na lastimável noite de 15 de Abril de 1912.
Mensagem
idêntica - S O S - foi ouvida
por meu pai minutos antes da queda do avião Junkers JU-52 em que ele viajava - no
dia 25 de Abril de 1942. Ele conhecia os
sinais e nos contou que viu o rádio-operador freneticamente enviando a terrível
mensagem. Mais detalhes sobre essa grave ocorrência (marcante para o
adolescente que eu era) encontram-se no capítulo “Meu Pai e a Navegação Aérea”
do livro “Compartilhando Riquezas de Vida” (publicado em 2014). Oportunamente tenciono adaptá-lo para oferecer aos leitores deste
blog, inclusive com fotos daquele trimotor alemão.
Fecho este
parêntese.
O constante
progresso da eletrônica fez surgir a “fonia” nos aviões, permitindo a conversa
de aviadores com pessoas em terra ou nos ares. Foi um brilhante marco na
história da aeronáutica. Do aperfeiçoamento dos equipamentos eletrônicos para a
aviação surgiu o termo Avionics (em inglês) e Aviônicos (em português). E o
progresso é ininterrupto.
No
contexto de comunicação entre pilotos e controladores de tráfego aéreo, passo a
contar uma sensacional experiência que vivi: dois aviões executivos aproximavam-se
de um movimentado aeroporto nos Estados Unidos; ambos tinham letras (PP-FNM e
PT-ENE) indicativas de matrículas do Brasil e eram pilotados por brasileiros. Eu
voava como passageiro em um deles.
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Ao
encontrá-lo, o líder informou ao brasileiro que um caça se posicionaria ao lado
e o outro iria na frente de seu avião; e sugeriu ao colega que se concentrasse
no voo, deixando a navegação por conta dele, bastando segui-lo. Assim,
alcançaram a pista da base, onde no dia seguinte foram feitos os
reparos necessários para o prosseguimento da viagem. Anos depois do fato
ocorrido, meu saudoso e dileto amigo - um forte e bravo coronel - não
conseguiu esconder a emoção ao me contar que, no negrume daquela noite, as luzes
do caça à frente do seu avião em pane e a voz amistosa e estimulante do
português lhe pareciam “a mão de Deus” que o sustentava...!
OBSERVAÇÕES - Para efeito de postagem neste blog, o capítulo “O VENTO, O VOO, O HOMEM E... DEUS” - referente à AVIAÇÃO - foi dividido em várias partes. A 1ª foi postada em 25 de Junho e a 2ª em 7 de Julho. Esta é a 3ª. Em continuação, outras devem ser postadas oportunamente. Jimmy Clark Nunes 25.8.2016
OBSERVAÇÕES - Para efeito de postagem neste blog, o capítulo “O VENTO, O VOO, O HOMEM E... DEUS” - referente à AVIAÇÃO - foi dividido em várias partes. A 1ª foi postada em 25 de Junho e a 2ª em 7 de Julho. Esta é a 3ª. Em continuação, outras devem ser postadas oportunamente. Jimmy Clark Nunes 25.8.2016
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