Há séculos os estados
nordestinos tem sido periodicamente atingidos por secas decorrentes da falta ou da má
distribuição de chuvas. Diante de calamidades, pesa sobre rotarianos e Rotary
Clubes a responsabilidade de oferecerem às comunidades prejudicadas os serviços
profissionais a seu alcance. Participando do movimento rotário há 65 anos (em
3.9.2016), tenho observado importantes ações de rotarianos de Fortaleza e de
Recife sobre o grave problema.
Apresento a seguir um
resumo de ocorrências e atividades desenvolvidas a respeito desde 1951, assim
como uma perspectiva sobre o futuro, baseada em uma viva esperança de dias
melhores - dependendo de decisões e atitudes de governos e empresários.
Há 65 anos - Pesquisas sobre
nucleação artificial da atmosfera foram iniciadas em Fortaleza, em 1951, pelo Professor
e Cientista João Ramos Pereira da Costa, em companhia do Eng. Janot Pacheco e
dos Agrônomos Abner Gondim e Mauro Botelho. Eles experimentaram gelo seco,
iodeto de prata, negro de fumo (fuligem) e cloreto de sódio, pulverizando-os
nas nuvens em aviões da FAB. Numerosas semeaduras foram realizadas, tendo a
solução à base de cloreto de sódio apresentado os resultados mais
satisfatórios.
Há 58 / 55 anos - O Prof. João Ramos contou com o apoio
do rotariano Antônio Martins Filho, Reitor da Universidade Federal do Ceará, que,
reconhecendo a validade das pesquisas, criou em 1958 o Bureau de Estudos das
Secas. Este veio a ser substituído em 1961 pelo Instituto de Meteorologia, sob a
direção do mencionado cientista. A colaboração do Cel. Av. Ovídio Gomes Pinto, então
Cte. da Base Aérea de Fortaleza, foi inestimável. Lauro Martins e outros
rotarianos do Rotary Club de Fortaleza-Oeste também estimularam a prática da semeadura
de nuvens.
Há 57 / 44 anos - Além do Ceará, entre
1959 e 1973 os seguintes estados (por ordem cronológica) foram beneficiados com
chuvas provocadas pela equipe do Prof. João Ramos: Minas Gerais, Rio de
Janeiro, São Paulo, Alagoas, Sergipe e Bahia.
Em 1972 a atividade de
nucleação saiu do âmbito da Universidade Federal do Ceará, quando o Governador
César Cals de Oliveira Filho criou a Fundação Cearense de Meteorologia e Chuvas
Artificiais – FUNCEME. Na época ele recebeu inestimável apoio da Associação
Comercial do Ceará, nas pessoas dos rotarianos Antônio Gomes Guimarães e
Henrique Peltesohn, tendo este sido nomeado Presidente da nova fundação e
adquirido na Inglaterra os primeiros aviões para semear nuvens, sob a
orientação técnica do Prof. João Ramos.
Há 35 anos - Conforme noticiado
pela revista VISÃO de 9.3.1981, o Instituto de Atividades Espaciais, de São
José dos Campos, obteve 670 chuvas dentre 737 nuvens nucleadas no Nordeste por aviões (pilotados por
oficiais da FAB) em experiências do Projeto MODART.
Há 33 anos - Os Presidentes dos 9
Rotary Clubes sediados em Fortaleza em 1983 formalizaram perante o Governador
do Ceará a sugestão de que os Governadores de todos os Estados do Nordeste pedissem
ao Presidente da República a ordem e os meios para o DNOCS - Departamento
Nacional de Obras Contra as Secas - implementar o Projeto MODART.
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A validade daquela
iniciativa do Rotary pode ser medida pelo seguinte fato: em 23.8.1983 o eminente Senador Alberto Silva (de saudosa memória) disse no Senado Federal: “É de
estarrecer que o Governo já tenha gasto mais de 500 bilhões de Cruzeiros só
para manter vivos os flagelados da seca e se negue a reservar 35 bilhões para
que o CTA monte no Nordeste as 11 bases de seu programa MODART e equipe 24 aviões para fazê-lo
funcionar.”
Há 23 anos - Em Fortaleza, n’O Povo
de 3.4.93, lê-se o seguinte na coluna de Joelmir Beting: “A seca vai muito bem, obrigado. E os que exploram o repasse de
recursos, também. A falta de chuvas alcança, em abril, dois terços do
território nordestino. São 10,5 milhões de brasileiros sem água até para
beber.”
Naquele
mesmo ano o Prof. Eudes de Souza Leão Pinto, Governador do Rotary, pronunciou
magistral exortação sob o título “Rotary e o clamor das secas”, num fórum
realizado em Recife. Dela cito as seguintes frases:
“Rotarianos somos por consciência de nossas responsabilidades perante as
nossas famílias, as nossas comunidades, as municipalidades, os Estados, as
Nações e a humanidade. Rotarianos somos
por possuirmos a coragem de lutar pelas causas do bem, da verdade, da justiça e
da fraternidade, com disponibilidade de propósitos para servirmos às mais
nobres que atendem aos superiores anseios e interesses da coletividade.” E
mais: “ ...impõe-se-nos o reconhecimento de
todas as oportunidades condizentes com os estudos científicos e tecnológicos já
realizados, ....” “Assim podemos estar
seguros da contribuição rotária a ser oferecida em favor das soluções dos
problemas das secas, em busca de uma convivência pacífica e operosa dos seres
humanos com a natureza,....”
Há 4 / 3 anos - No Diário do
Nordeste (de 17.10.2012) escrevi um pequeno artigo sobre Secas x Chuvas. Dele transcrevo
as seguintes frases : “Como é melhor
acender uma vela no escuro do que maldizer a escuridão, espero que as
recordações acima comentadas possam iluminar, como a fraca luz de uma velinha,
a escuridão da seca que nos envolve e, consequentemente, possam motivar pessoas
da atual geração, nas áreas pública e privada, a investigar as possibilidades
modernas de semear nuvens para colher chuvas. Seria injustificável relegar ao
esquecimento assunto tão sério e importante sem discuti-lo adequadamente com
pessoas credenciadas, no Brasil ou no Exterior.”
Em 1.2.2013 dois
rotarianos (o Eng. José Rêgo Filho e eu) acompanhamos o Dr. João Porto
Guimarães, Presidente da Associação Comercial do Ceará, quando a tradicional
entidade formalizou perante o Diretor Geral do DNOCS a sugestão de que o
referido órgão viesse a ser o indutor do processo de nucleação de nuvens para a
obtenção de chuvas. A ausência de resposta revela o descaso do Governo Federal daquela
época pelo grave problema das secas, que estava prejudicando não só a nossa mas
também as principais regiões brasileiras.
AVIAÇÃO - VALIOSA ARMA NO COMBATE ÀS SECAS - Havendo eu escrito um
livro, em 2014, sob o título COMPARTILHANDO RIQUEZAS DE VIDA - resolvi
delegar a ele o dever patriótico de proclamar, perante quem o ler, uma ideia
cuja essência é a melhoria de vida dos brasileiros com abundância de chuvas -
despejadas pelas nuvens naturalmente ou estimuladas pela nucleação. Assim, quando eu não mais puder fazê-lo em
pessoa, a semente plantada através daquele livro poderá germinar a fim de
proclamar que, de fato, a Aviação é uma valiosa arma no combate às secas. Os leitores
que tiverem interesse em conhecer os subsídios nele contidos (na parte NA
ERA DA AVIAÇÃO) poderão receber uma “separata”
do citado capítulo. Ela poderá ser enviada a quem a solicitar pelo seguinte
endereço: jkc.nunes@gmail.com
Situação atual no Brasil e no mundo -
No Ceará permanece a
suspensão da atividade de estudos e operações em semeadura de nuvens desde que sucessivos
Governadores tem optado pela aprovação de pareceres de assessores que recomendam
a citada suspensão, sem, todavia, confrontá-los com a opinião de profissionais favoráveis
à sua reativação. É praxe universal um juiz analisar opiniões contrárias e
favoráveis a uma causa antes de julgá-la, mas tem sido em vão iniciativas da
Associação Comercial, de pessoas e de entidades em prol do retorno das
memoráveis realizações que, no passado, projetaram o Ceará como referência
nacional em atividades de nucleação, obtendo chuvas e aumento de pluviosidade.
Em Pernambuco a Universidade
Federal e o Conselho Regional de
Engenharia e Agronomia - CREA tiveram a feliz ideia de iniciar a publicação de
CADERNOS DO SEMIÁRIDO. No volume 1 (Dez. 2014/Jan. 2015) o Engenheiro e
Professor Mário de Oliveira Antonino (Presidente 2013/15 do Colégio Brasileiro
de Diretores do Rotary International) escreveu esclarecendo os motivos que o
levaram, juntamente com outros nordestinos que honram o Brasil com suas vidas enquanto
dignificam suas profissões, a tomar essa posição cívico-patriótica. Transcrevo
o seguinte trecho: “Estamos numa era
moderna onde os drones já são uma realidade. A inovação tecnológica tem de ser
explorada urgentemente para a atividade rural ser praticada com orgulho e
claras vantagens econômico-sociais.”
No Brasil, a seguinte frase da revista Veja (de 29.10.14)
resume a situação que marcou aquela época: “Com
os reservatórios em seus patamares historicamente mais baixos, o Brasil começa
a conviver com a assustadora sombra da escassez do líquido insubstituível, sem
o qual não há vida e a economia para.”
No Exterior,
52 países realizam pesquisas de modificação artificial do tempo e programas
operacionais de semeadura de nuvens. No tecnologicamente mais avançado do mundo
- em 10 Estados americanos - 39 programas são realizados. Estes dados me foram repassados por um amigo que é Doutor em Física
com Pós-doutorado em Física de Nuvens – o conceituado Professor José Carlos
Parente de Oliveira.
Conclusão: Quando eu era menino -
num Nordeste carente de luz e força - muitas vezes ouvi meu pai reclamar contra
o desperdício das águas do rio São Francisco antes da grande hidroelétrica
de Paulo Afonso ser construída. Hoje meus filhos e netos me ouvem reclamar
contra o desperdício das águas das nuvens que, não tendo sido nucleadas,
apenas passaram por cima... “e o vento levou...”
Espero que este alerta venha
a ser aproveitado por muitos brasileiros que, tomando conhecimento do problema,
se disponham a exigir urgentes e adequadas providências dos governos federal,
estaduais e municipais - “antes tarde do
que nunca”. Caso o poder público nada faça, talvez algumas empresas privadas
queiram se proteger das terríveis consequências da falta de chuvas no Nordeste
e, apesar disso, do injustificável desperdício de nuvens propícias à nucleação.
No auge da calamidade,
assim como no fragor da batalha, opiniões divergentes devem ser postas de lado
para posterior resolução; até por instinto de conservação, o que deve prevalecer
é o bom senso! Diante de um mal inevitável, o mínimo que se deve fazer é evitar
um mal maior.
Excelente post! Bastante elucidativo e atual. Parabéns ao meu querido avô Jimmy.
ResponderExcluirPS: acho que conheço a foto das nuvens!