Continuação
de TRABALHO - 6/6
Contendo referências sobre:
Seleção de fatos que vi, ouvi, li ou vivi - em 90 anos (1927/2017) - no mundo da Aviação; primórdios da aviação no Piauí; linha Nova York - Rio - Buenos Aires com escala em Parnaíba, com hidroaviões Commodore; Presidente Getúlio Vargas e esposa no batismo do quadrimotor Sikorsky “Brazilian Clipper”.
Início
da 4ª parte do livro 90 ANOS, 1 VIDA - cujas partes 1, 2 e 3 já estão na
Internet.
RESSALVA – Escrevo sobre AVIAÇÃO de forma limitada à
minha percepção e ao período 1927-2017. Ao contar fatos que vi, ouvi, li
ou vivi no mundo da aviação, faço-o só por admiração a aeronaves e às
pessoas que as tornaram e/ou tornam úteis à humanidade.
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Nova York - Rio - Buenos Aires (via Parnaíba) – em
1929
A situação geográfica da pequena cidade de Parnaíba, no delta do rio do mesmo nome, foi importante fator para viabilizar
a operação da linha aérea ligando as grandes cidades de Nova York, Rio de Janeiro e Buenos Aires - em 1929.
O rio Igarassu (que
banha Parnaíba, no Piauí) é um braço do grande rio Parnaíba. Sua boca
fica ao Sul (no bairro Igarassu) e sua foz fica ao Norte (na vila de
Amarração, atual cidade de Luís Correia) distantes 6 e 13 km, respectivamente. Depois
de experimentarem outro local para operação dos hidroaviões, os americanos da
NYRBA (sucedida pela PANAIR) escolheram a foz (em Amarração), onde o rio
desemboca no Atlântico.
Fotos de hidroaviões COMMODORE: 1 - em NOVA YORK (sobrevoando a Estátua da Liberdade); 2 - em AMARRAÇÃO (pousando no rio Igarassu);
3 - no RIO DE JANEIRO (sobrevoando o Corcovado, onde o grandioso monumento do Cristo
Redentor - visto sob andaimes - ainda estava em construção).
Como já citado anteriormente, o coordenador de todo o processo foi meu saudoso pai - Celso Nunes - cuja visão e entusiasmo o levaram a obter a colaboração de autoridades, empresários e líderes comunitários (fotos ao lado) objetivando a inclusão de Parnaíba no contexto da incipiente mas promissora aviação comercial.
Como já citado anteriormente, o coordenador de todo o processo foi meu saudoso pai - Celso Nunes - cuja visão e entusiasmo o levaram a obter a colaboração de autoridades, empresários e líderes comunitários (fotos ao lado) objetivando a inclusão de Parnaíba no contexto da incipiente mas promissora aviação comercial.
Em 1934 (foto) a Panair e a Pan American, através de Celso Nunes (então sócio de “Casa Ingleza”), ofereceram ao público do Piauí a 1ª estação de passageiros de aviões.
Ela foi instalada numa parte da casa de praia que a
firma (James Frederick Clark & Cia, Ltda.) de Parnaíba mantinha em
Amarração. Era nela que nossa família ficava nas temporadas praianas, que
coincidiam com as férias escolares.
Na fachada lê-se: PANAIR
e Pan American Airways System. O antigo emblema,da PAA, com o mapa da América
do Sul (reproduzido ao lado) - está na
bandeira, que era hasteada nos dias de chegadas de aviões. Anos depois aquele
mapa foi substituído pelo mapa do mundo – que será mostrado adiante.
Oferecendo segurança e conforto a seus
clientes numa sala apropriada, meu pai
- o 1º de branco (com chapéu de feltro)
à esquerda, - promoveu uma festa de inauguração
que foi prestigiada pelo Prefeito Municipal Dr. Mirocles de Campos Veras
- de terno cinza (com chapéu duro de palha) no centro - e os mais expressivos
empresários de Parnaíba. A eles meu pai proporcionou um moderno espetáculo
audiovisual: um lindo avião descendo nas águas, silenciosamente deixando e
recebendo passageiros e, após ruidosa corrida, voltando aos ares.
Eram os Consolidated “Commodore”, que na época eram considerados grandes
hidroaviões. Eles vinham da América e iam para a Argentina, fazendo escalas nas
principais cidades costeiras do Brasil. O sonoro e alto ronco de seus motores era
música para meus ouvidos...!
Quando tais operações começaram, em 1929, eu tinha só um ano; quando
terminaram eu tinha onze, no início de 1939. Elas mudaram para Rosápolis, no
rio Parnaíba, onde a Panair construiu uma plataforma flutuante (para atracação
dos aviões) e uma escadaria de concreto.
A seta em vermelho indica o nome PARNAHYBA
ç
situada entre as cidades de SÃO LUIZ e FORTALEZA.
ç
situada entre as cidades de SÃO LUIZ e FORTALEZA.
O mapa da Pan American mostra
as linhas domésticas de suas subsidiárias
Panair do Brasil e Lloyd
Aereo Boliviano.
Importância da ligação Parnaíba-Amarração
A cidade de Parnaíba e a vila de Amarração eram ligadas por trilhos da
Estrada de Ferro Central do Piauí - EFCP - (construída no início da década de
1920) e separadas pelo pequenino rio Portinho. Sobre este existia uma imponente
ponte de ferro, por onde passavam as composições ferroviárias (locomotivas
e carros).
Havia um carro executivo sobre trilhos, com motor tipo
automotivo, semelhante a um bonde urbano. Pois a EFCP o cedeu à Panair -
fretado - para o transporte dos funcionários e passageiros, sempre que
necessário.
Ao lado vê-se a frente desse veículo peculiar. Na plaquinha acima do farol estão escritas as palavras PANAIR – EXPRESSO. O percurso era coberto em uns vinte minutos de aprazível passeio ferroviário contemplando as belezas naturais e experimentando a sensação de atravessar a ponte num veículo sem portas e desprovido de parabrisa.
Da esq. p/ a dir.: meu irmão Fred, Mamãe, Papai, passageira, tripulante
da PAA e eu (na frente).
Pendurado no carro ou bonde vê-se o motorista – Snr. Pirangy.
A foto foi tirada pelo Mr. Rice, um cavalheiro recém-aposentado e marido
da senhora que está com a mão sobre meu ombro.
O distinto casal americano estava de férias numa viagem de ida e volta (Pan American e Panair) de Miami ao Rio de
Janeiro com diversas escalas em cidades litorâneas do longo trajeto.
Em Parnaíba eles ficaram hospedados em nossa casa. Durante muitos anos
Papai recebeu lindos cartões de Natal e Ano Novo com amistosa mensagem deles à
nossa família.
A ferrovia
inicialmente mencionada começou a ser construída em Janeiro de 1916 mas só em 1922 foi inaugurado o 1º trecho – de Amarração a Cocal. A obra
continuou até Piracuruca, na extensão de 148 quilômetros. De lá em diante
prosseguiu muito lentamente, só chegando a Periperi em 1937. Após longo período, os trilhos chegaram em Campo Maior em 1952 e, finalmente, em 1966 alcançaram Teresina. Como estrada
de ferro operante, ela só funcionou até 1979,
mas lamentavelmente foi paralisada. O único trecho em atividade liga Altos a Teresina,
como parte da ferrovia que liga Fortaleza a São Luís.
Muito antes, em 1869, quando o jovem (de 14 anos) que
viria a ser meu avô materno chegou da Inglaterra num navio a vela, foi em
Amarração que ele desembarcou, sendo levado a Parnaíba numa canoa a remo
subindo o rio Igaraçu. Naquela época o único meio de transporte coletivo era o
fluvial.
Só muito depois foi aberta uma estrada carroçável, de terra; que servia
para viagens a cavalo ou a pé. A partir do final da 2ª Guerra Mundial (1945), quando os jipes chegaram, a
tração nas quatro rodas vencia as areias e proporcionava a ligação rodoviária
Parnaíba-Amarração – contornando o rio Portinho.
Anos mais tarde foi construída uma estrada de
rodagem de pedras poliédricas, incluindo - ao lado da velha ponte ferroviária -
uma moderna ponte de concreto (foto ao lado). Tive o prazer de assistir a
inauguração da mesma, quando meu pai fez um discurso, fazendo referência à
ponte de ferro (construída pelo Eng. Miguel Bacelar, seu ilustre cunhado e meu
tio, que foi o construtor da Estrada de Ferro Central do Piauí). Na foto abaixo
vê-se meu pai quando fez seu comovido pronunciamento naquele dia tão marcante
para a história do Piauí.
Finalmente, essa
rodovia veio a ser asfaltada. Em épocas diversas viajei em trem, bicicleta (uma
vez...), jipe, automóvel e lancha no pitoresco percurso que liga minha querida
terra natal à pitoresca praia.
Numerosas vezes
sobrevoei aquela área - viajando de Parnaíba a Fortaleza e volta – em aviões
comerciais e executivos. Excetuando os voos noturnos, cada vez que eu, do alto,
contemplava a extensa praia ligando Atalaia ao Coqueiro, as recordações me
faziam agradecer a Deus por tantas bênçãos que Ele me concedeu naquela
aprazível região, ao longo de tanto tempo.
1ª foto, de 1945: eu aos 17
anos, solteiro, desfrutando da pacata Amarração.
2ª foto, de fins de 1951 ou
início de 1952: eu mostrando ao meu primogênito - Jimmy Junior - o “monstro de
ferro” na estação de Amarração.
3ª foto, de 1994: eu e Carminha - quando já morávamos em
Fortaleza - numa de nossas visitas à Amarração e seus arredores.
Graças à navegação aérea - praticada pela Panair e Pan American -
a vila de Amarração foi muito importante para o progresso do Piauí. Como meu
pai - Celso Nunes - esteve no início
de tudo, desde 1929, tive o
privilégio de ser testemunha ocular dessa empolgante e memorável história.
Copiei no “scanner” (escaneei...) os antigos mapas abaixo, que mostram
as pequenas localidades litorâneas que serviam de rumo e apoio à primitiva
navegação aérea realizada pela Panair e Pan American.
Limitei-me ao litoral de São
Luís a Fortaleza (com Amarração no meio), por estar escrevendo só sobre
assuntos referentes aos 90 anos de minha vida.
Modernizando sua frota, a Pan American Airways lançou
em 1936 os velozes bimotores anfíbios Sikorsky
S-43 “Baby Clipper” (foto acima).
A foto ao lado é do 1º deles que pousou em Parnaíba – em 25.1.1939. Está atracado no “flutuante” inaugurado na ocasião. Meu pai saudou o comandante americano, que é visto ao subir a nova escadaria de concreto para a estação de passageiros - em Rosápolis.
Ali os hidroaviões passaram a operar, até serem substituídos por aviões
terrestres.
À esquerda da foto (acima) vê-se o comandante do “Baby Clipper”, parado diante da fita que o Prefeito
cortou simbolizando a inauguração. Meu pai – Celso Nunes - é o 2º da direita para a esquerda, segurando uma criança (minha
irmã Célia). Os outros são autoridades
e empresários convidados por ele.
Eu (aos 11 anos) também fui à festa que ele proporcionou, transformando
a ocasião em um show aéreo de dois hidroaviões chegando, desembarcando e
recebendo passageiros, e saindo em seguida. Um vinha da América e o outro do
Rio de Janeiro. Em termos de marketing foi um sucesso, promovendo os nomes da
Pan American e da Panair do Brasil.
O referido melhoramento foi feito pela Panair. O construtor (do
flutuante e da escadaria) permaneceu algumas semanas em Parnaíba e fez amizade
com Papai, que o levou para jantar em nossa casa diversas vezes. Meu pai tinha
pena dele, pois era um homem triste, com uma amarga história de vida: ele era
russo, ex-oficial da Marinha, que não aderiu ao comunismo e por isso teve de
fugir quando mataram sua esposa e filhos. Ver e ouvir de perto uma pessoa tão
injustamente prejudicada aumentou, no menino que eu era, o medo que eu já tinha
dos comunistas. Na foto (esq./ dir.): ele, o Prefeito Mirocles Veras e meu pai.
Paralelamente, a Pan American operava com aviões
maiores (foto abaixo) ligando as Américas do Norte e do Sul pelo litoral. Eram
os Sikorsky S-42, de quatro motores, que transportavam 40 pessoas (8 tripulantes e 32
passageiros) a 306 km por hora. Esses números, hoje pequenos, eram enormes na época.
Em 1934 um deles recebeu o nome de “Brazilian Clipper” e foi batizado pela esposa do Presidente Getúlio Vargas, tendo ela, ele e outros convidados sido distinguidos com um voo de demonstração da lindíssima aeronave em torno do Rio de Janeiro.
Elas não faziam escalas em Parnaíba, onde só pousou
uma bela maquete que Papai colocou em lugar de destaque no escritório. Conservo-a
- ainda hoje - como relíquia e obra de arte. Veio também uma gravura
representando “Azas modernas sobre velas antigas” (foto) que, emoldurada, passou a
embelezar um ambiente de nossa casa em Parnaíba. Atualmente ela está em meu
gabinete, onde posso vê-la e recordar tempos antigos.
Boas recordações fazem bem à mente e ao coração e
ensejam oportunidades de agradecimento a Deus pelo Passado e pelo Presente.
Abro um parêntese:
.
1 - Eu era menino na década que
marcou a operação da linha New York -
Rio de Janeiro - Buenos Aires (com
escala em minha terra) referida no início deste capítulo e não podia avaliar o
que só muito depois vim a perceber: a inestimável importância da aviação para o
desenvolvimento social e econômico de muitas cidades brasileiras, inclusive
Parnaíba (que abrangia a vila de Amarração) e Fortaleza.
2 - A pioneira NYRBA foi comprada pela PAN AMERICAN, passando a ser
PANAIR. Meu pai foi Agente de ambas durante mais de 30 anos, no Piauí. No
Ceará, em 1948, sua firma (Celso Nunes) substituiu a sucursal que elas
mantinham em Fortaleza.
3 - Na foto ao lado estou recebendo, em 1988, a linda maquete de ”Commodore” que recebi de presente de um distinto amigo – Cte. Walter de Araújo Rabello.
Fecho o parêntese.
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Ligando o Passado ao
Presente
Como
citado acima, o construtor da Estrada de Ferro Central do Piauí - EFCP - em
1916/22 - foi o Eng. Miguel Furtado Bacellar.
É incalculável o valor dessa grande obra para o progresso de Parnaíba, do Piauí
e da região.
Pois
bem, informo à geração que em 2020
dá vida à minha querida terra natal, que aquele Engenheiro tinha um irmão
Farmacêutico – Raul Furtado Bacellar.
Aproveito para homenagear ambos e destacar a louvável
iniciativa do ilustre Advogado Renato Araribóia de Brito Bacellar em
criar e manter a conceituada Fundação que ostenta o respeitável nome de seu
saudoso pai – Dr. Raul Furtado Bacellar.
Para ilustrar esta nota escolhi uma foto que
registra o momento em que meu saudoso pai - Celso Nunes - foi agraciado com o
título de Cidadão Honorário de Parnaíba, em 26.6.1969. Ele é visto entre seu colega Pedro Machado e o jovem Renato –
há 50 anos...! Sinto-me feliz com esta oportunidade de ligar Passado e
Presente.
Continua em
AVIAÇÃO - 2/5
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