quinta-feira, 9 de novembro de 2017

INFÂNCIA E VELHICE

Casimiro de Abreu já dizia que na infância os dias eram belos e a alma respirava inocência. Sempre estive de acordo; e aos 90 digo que na velhice os dias ainda são belos e a alma respira esperança.



INFÂNCIA E VELHICE

Ao atingir a idade de 90 anos, concedo-me a liberdade de alçar um voo... nas asas da imaginação. Voando e pensando poderei contemplar a trajetória percorrida no passado, avaliar o momento presente e vislumbrar a vida eterna no futuro.

Quando criança muitas vezes ouvi meu pai recitando o poema em que Casimiro de Abreu desenhou a infância nos versos de seu lindo “Meus 8 anos”. Dele escolhi só as as seguintes frases:

Oh! Que saudades que eu tenho da aurora da minha vida, da minha infância querida, que os anos não trazem mais.” “Como são belos os dias do despontar da existência! Respira a alma inocência como perfumes a flor. O mar é lago sereno; o céu – um manto azulado; o mundo – um sonho dourado; a vida – um hino de amor!”

FOTOS:o autor aos 4 anos (em cima do móvel), com os pais e irmãos, em 12.9.1931;  aos 5,  com as irmãs, em 1932; aos 7, com os pais, em 1935; aos 7 (o mais novo) com os irmãos e um primo, em 1935; aos 6 (atrás), em 1934; e aos 10, em 1938.

No tempo dos meus próprios 8 anos realizei o sonho de voar...! Foi num hidroavião de três motores que deslizou sobre as águas do ”lago sereno” que era o caudaloso rio Parnaíba antes de subir para o “manto azulado” onde pude ver nuvens bem de perto, parecendo algodão. Nas asas daquele “sonho dourado” admirei a força do avião levando flutuadores que pareciam canoas penduradas nele. A presença de Mamãe e minhas irmãs faziam do pequeno ambiente um verdadeiro “hino de amor” nos ares...!

Meio século passou voando e eis que eu, aos 58 anos, depois de voar centenas de vezes em dezenas de tipos de aviões diferentes, parecia uma criança quando tive a alegria de voar no maior avião do mundo pela 1ª vez.  Foi num voo de Recife a Paris. O “lago sereno” agora era o Oceano Atlântico visto de doze mil metros de altitude. Na cabine, conversando com o comandante francês daquele Boeing 747, ele me mostrou na linha do horizonte, muito longe, uma faixa de terra; e esclareceu, com uma pontinha de orgulho, que estávamos vendo o litoral de sua terra – a França...! 

Ao recordar aquele cenário que vi há 32 anos, posso imaginar o seguinte:
enquanto meu corpo ainda estava dentro de um avião distante, eu já podia contemplar uma fronteira do continente europeu, antes de chegar lá. Pois bem, de semelhante modo, creio que assim ocorrerá comigo quando, já tendo Deus me desvencilhado dos vínculos terrenos, eu visualizar o próprio Senhor Jesus me mostrando a entrada do Céu, que então eu terei a suprema felicidade de poder contemplar pouco antes de chegar lá.
                                  
Farei, agora, uma simples analogia:

Aquele aviador tinha confiança na expectativa de que dentro de algumas horas chegaria em Paris, baseado em seu conhecimento sobre a arte de comandar um avião e no bom funcionamento do mesmo, assim como em sua obediência pessoal às leis da natureza e aos regulamentos do tráfego aéreo  -  de que dependiam totalmente a segurança dele próprio e das três centenas de passageiros a bordo.

Quanto a mim, tenho a mais absoluta certeza de que dentro de algum tempo - que pode ser curto ou longo - chegarei ao meu glorioso destino eterno, graças à salvação em Cristo - que me foi gratuitamente concedida por Deus, em plena consonância com os ensinamentos contidos na Bíblia.

Dela citarei apenas dois versículos de Isaías e dois de Jeremias:
“Os jovens se cansam e se fatigam, e os moços de exaustos caem, mas os que confiam no SENHOR renovam as suas forças, sobem com asas como águias, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam.” (Is 40.30-31)
“Bendito o homem que confia no SENHOR, e cuja esperança é o SENHOR. Porque ele é como a árvore plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano da sequidão não se perturba nem deixa de dar fruto.” (Jr 17.7-8)

No início deste capítulo mencionei que, atingindo a idade de 90 anos, eu me concedia a liberdade de alçar um voo... nas asas da imaginação. Pois bem, agora estou na reta final e assim, antes do pouso, quero manifestar o seguinte sentimento:
O poeta que nos legou o belo poema dos 8 anos disse que sentia saudade da aurora de sua vida; eu digo que minhas saudades são dos entes queridos que faziam parte de minha própria existência mas foram seguindo o caminho de todos os mortais.
Eles são tantos que, para lhes prestar minha homenagem póstuma quando chego ao patamar das nove décadas, citarei os nomes de apenas quatro, que são:
meu pai e minha mãe, CELSO NUNES e MARIE CLARK NUNES,
meu sogro e minha sogra ALBERTO CORREIA e MARIA MARQUES CORREIA.
           
Para concluir, faço novamente referência ao poema dos 8 anos. Casimiro de Abreu - o grande poeta cuja vida foi tão curta (1839-1860) - declarou que na infância os dias eram belos, o céu era um manto azulado e a vida era um hino de amor.
Concordo plenamente com ele e vou além, pois ao atingir o patamar das nove décadas de existência posso acrescentar que são belos os dias de minha velhice, o céu ainda me parece um manto azulado e o carinho de meus familiares e amigos é, para mim, um melodioso hino de amor.

Por isso mesmo, estou escrevendo BEM VIVIDOS 90 ANOS - que tenciono postar brevemente no blog Compartilhando Riquezas de Vida como um novo capítulo.

Assim, o que acabo de dizer sobre a Infância e a Velhice - baseado na poesia que meu pai gostava de recitar -  passa a ser  um prólogo do capítulo acima referido. Ele nasceu do seguinte raciocínio: acho que tenho o dever moral de prestar contas do que andei fazendo com o tempo e os recursos recebidos de meu Criador - como uma espécie de “Balanço Geral” revelando minha percepção do mundo de que participei e participo.

Meu objetivo é contar um resumo do que pude ouvir, viver e/ou ver durante esses anos, manifestando gratidão a Deus pela felicidade de continuar desfrutando de uma velhice abençoada – até o dia que Ele quiser, conforme Sua soberana vontade.

*

Apêndice: AVIAÇÃO - TECNOLOGIA -  NATUREZA

Para quem gosta de Aviação, ofereço um comparativo de algumas características dos aviões acima citados, que voei quando tinha as idades de 8 e 58 anos respectivamente:

JUNKERS G-24 – Fabricação alemã
Comprimento 15,6 m; Envergadura 31,00 m; Altura 6,00 m.
Peso máximo 6.800 quilos; Velocidade cruzeiro: 140 km/h;
Altitude cruzeiro: 2.000 m;           Alcance: 1.300 km
Passageiros: 9.             Empresa: Sindicato Condor.        Ano: 1936.
                                
                                                  BOEING 747 – Fabricação americana
Comprimento 70,66 m; Envergadura 59,64 m; Altura 19,32 m.
Peso máximo 322.000 quilos; Velocidade cruzeiro:  966 km/h;
Altitude cruzeiro: 13.715 m;           Alcance: 8.330 km
Passageiros: 342.          Empresa: Air France.          Ano: 1985.

Não há como estabelecer comparação entre os conjuntos motopropulsores antigos e modernos, pois enquanto o Junkers G-24 era equipado com pequenos motores a gasolina (3) que giravam hélices, o Boeing 747 é equipado com grandes turbinas (4) do tio turbofan, que exercem um empuxo de proporções gigantescas. Em um importantíssimo detalhe, porém, o G-24 e o 747 se igualam, pois ambos utilizam o mesmo oxigênio encontrado na atmosfera. Ele sempre foi e é o agente da respiração de homens e animais e o agente da combustão em motores e máquinas. Esse elemento indispensável é concedido gratuitamente pelo Criador, de forma inesgotável.  A Aviação é companheira do progresso, mas não existiria se não existisse oxigênio na atmosfera que envolve o globo terrestre.

O desenvolvimento tecnológico é resultante do aproveitamento - por homens inteligentes e idealistas - de elementos criados por Deus e postos à disposição da humanidade. Como já dizia Lavoisier, “Na natureza nada se cria e nada se perde, tudo se transforma”.

Um comentário:

  1. Parabéns tio Jim. Curiosidades o G-24 pesa + ou - 1/50 do peso do B-747. Considerando 50 × 9 passageiros daria 450 passageiros, que representa o mesmo peso do B-747 que só leva 342 passageiros.

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