Reflexões
no 1º aniversário da lamentável tragédia da “Challenger” – em 28.1.1986.Escrito ao 59
anos, em Janeiro 1987
Por
mais forte, rico e poderoso que seja, o homem se dobra diante de uma doença
incurável, reconhecendo a insignificância que caracteriza o ser humano. Assim
também, por mais forte, rico e poderoso que seja, um povo se curva diante de
uma tragédia nacional, reconhecendo a insignificância da
humanidade no contexto universal.
Quem não já sofreu com a
perda irreparável de um ente querido? Às vezes o sofrimento extrapola o âmbito
familiar para atingir o país inteiro, e, em alguns casos, até a comunidade
mundial. Assim aconteceu no Brasil, no episódio da doença e da lenta agonia do
saudoso Presidente TANCREDO NEVES. Assim aconteceu no México, por ocasião do
último terremoto. E assim aconteceu nos Estados Unidos, há um ano, quando a
“Challenger” explodiu aos olhos de milhões de telespectadores atônitos.
A respeito desta última
ocorrência, o Presidente RONALD REAGAN destacou dois aspectos em seu
pronunciamento à Nação: o lado humano da tragédia e o político do programa
espacial americano. Disse o Presidente que não esqueceria os sete tripulantes
mortos e a última vez em que os viu, ao se prepararem para a viagem, quando
acenaram despedindo-se, minutos antes de se “desvencilharem dos vínculos da
Terra para alcançarem a face de Deus”; e lembrou que tudo isso é parte do
processo de exploração e descobertas, objetivando a expansão dos horizontes da
humanidade, processo esse que haverá de prosseguir. Apesar do extraordinário
progresso já alcançado, a humanidade continua na escuridão da ignorância, ainda
tendo muito que aprender; cada salto revela que a última vitória obtida foi
apenas um pequeno degrau rumo ao conhecimento do Universo e de seu Criador.
A idéia de construção de
um avião orbital reutilizável, para o homem poder ir e voltar repetidas vezes,
como um “ônibus espacial”, surgiu no começo dos anos 70, merecendo um capítulo
muito especial na História da Aviação. Do projeto ao lançamento do primeiro, em
14 de Abril de 1981, denominado “Columbia”, a NASA teve de vencer uma
verdadeira multidão de obstáculos. Trata-se do engenho mais sofisticado jamais
construído pelo homem. É simplesmente fascinante o exame, embora superficial,
das características exclusivas das aeronaves conhecidas como “ônibus
espaciais”. Pois bem, 24 vezes elas já foram ao espaço, cumpriram missões
espetaculares e regressaram à Terra, reentrando na atmosfera quase como um
meteorito, planando como um avião normal e finalmente pousando com suavidade no
aeroporto objeto de seu “plano de vôo”. Acho que essas naves deslumbrariam o
próprio JULES VERNES, o “grande precursor da ficção científica”, se sua vida
houvesse se prolongado por mais oitenta anos.
A “Challenger” será um
marco inesquecível na trajetória da “corrida espacial” em que russos e
americanos têm competido, repetindo o padrão das epopéias que em séculos
passados marcaram as grandes tragédias e os extraordinários progressos da raça
humana. Quando FRANCIS SCOBEE e sua tripulação da nave sinistrada em 28 de
Janeiro de 1986 tornaram-se mártires da “corrida espacial”, fazia apenas um
quarto de século que YURI GAGARIN
efetuara (em 12 de Abril de 1961) o 1º vôo do homem no espaço.
Entrementes, outros astronautas de ambos os países perderam suas vidas no campo
da luta tecnológica. Antes de 1927, quando CHARLES LINDBERGH realizou o 1º vôo
sem escala entre Nova York e Paris, outros também haviam tentado, abrindo com
suas próprias vidas o caminho para vitórias futuras de outros bravos que, como
eles, igualmente se arriscaram a expandir os horizontes da humanidade.
Recuando muito mais no
tempo, contemplamos a figura do descobridor da América, CRISTÓVÃO COLOMBO - o
“challenger” (desafiador) da época – que ousou desafiar o mar em naves movidas
unicamente pelo vento. Certa vez estive a bordo de uma réplica da caravela
desse extraordinário navegador, exposta à visitação na Feira Mundial de Nova
York (de 1965), e constatei a precariedade daquele barco. A competência e a
bravura para enfrentar o desconhecido eram características pessoais daquele e
também de outros grandes navegadores, tais como: VASCO DA GAMA, que descobriu o
caminho para a Índia ao realizar a viagem imortalizada por Camões, a 1ª da
Europa à Ásia pelo mar; PEDRO ÁLVARES CABRAL, que descobriu nosso Brasil; e
FERNÃO DE MAGALHÃES, pioneiro da circunavegação(provando a esfericidade do
globo terrestre), apesar de haver sido morto por indígenas antes do término de
sua façanha, que todavia foi completada por JUAN SEBASTIÁN DE ELCANO. Com o passar dos séculos, muitos foram os
homens que se distinguiram como exploradores, sendo todos eles credores da
humanidade pela contribuição que deram ao alargamento das fronteiras geográficas
e do conhecimento humano. Dentre eles, não foram poucos os que apenas tentaram
sem alcançar o alvo, e até pereceram, sozinhos ou com todos os seus
acompanhantes. Estes deixaram um exemplo, que a História consagrou, e um
desafio (“challenge”) para outros prosseguirem. Dignos de serem lembrados,
dentre outros, são ROALD AMUNDSEN, que morreu no Ártico (procurando UMBERTO
NOBILE, que explorou o Polo Norte em um dirigível, depois de haver ele próprio
atingido o Polo Sul) e ROBERT FALCON SCOTT, que pereceu na Antártida em sua
terceira expedição.
A história da raça humana
épontilhada de exemplos marcantes de conquistas e vitórias sucedendo a
desastres e mortes de incontáveis mártires e heróis que abriram veredas e
caminhos no escuro e no desconhecido, desafiando matas, desertos, mares,
calotas polares, os ares... e agora o espaço!
A lamentável explosão que
vitimou os sete astronautas da “Challenger” certamente haverá de contribuir
para o aperfeiçoamento dos futuros “ônibus espaciais”; talvez possa também, de
uma forma ou de outra, aproximar de CRISTO os homens, ao reconhecerem a
insignificância que nos é inerente. Sendo próprio da natureza humana o desafio
de explorar o desconhecido - em terra, nos mares e nos ares – assim também
deveria ser o desafio pessoal de cada um no sentido de procurar conhecer AQUELE
de Quem todos se lembram quando se vêem diante do perigo, da perda de um ente
querido ou de uma tragédia nacional. Ocorrência dolorosas e chocantes têm
levado muitos ao estudo da Bíblia para poderem conhecer o único caminho que
verdadeiramente pode levar os homens a “alcançarem a face de DEUS” quando se
“desvencilharem dos vínculos da Terra”.
Obs.:
Sob o título “A Challenger entrou para a História” este artigo foi
publicado em Julho de 1987 na revista
“Brasil Rotário” e, em 2014, no livro “Compartilhando Riquezas de Vida”. Neste blog ele é um dos artigos da parte
“AVIAÇÃO”, que nas próximas postagens oferecerá outros igualmente concernentes à aeronáutica ou ao espaço.
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