sábado, 7 de maio de 2016

DESBRAVADORES DO ESPAÇO

Reflexões no 1º aniversário da lamentável tragédia da “Challenger” – em 28.1.1986.Escrito ao 59 anos, em Janeiro 1987


Por mais forte, rico e poderoso que seja, o homem se dobra diante de uma doença incurável, reconhecendo a insignificância que caracteriza o ser humano. Assim também, por mais forte, rico e poderoso que seja, um povo se curva diante de uma tragédia nacional, reconhecendo a insignificância da humanidade no contexto universal.
Quem não já sofreu com a perda irreparável de um ente querido? Às vezes o sofrimento extrapola o âmbito familiar para atingir o país inteiro, e, em alguns casos, até a comunidade mundial. Assim aconteceu no Brasil, no episódio da doença e da lenta agonia do saudoso Presidente TANCREDO NEVES. Assim aconteceu no México, por ocasião do último terremoto. E assim aconteceu nos Estados Unidos, há um ano, quando a “Challenger” explodiu aos olhos de milhões de telespectadores atônitos.
A respeito desta última ocorrência, o Presidente RONALD REAGAN destacou dois aspectos em seu pronunciamento à Nação: o lado humano da tragédia e o político do programa espacial americano. Disse o Presidente que não esqueceria os sete tripulantes mortos e a última vez em que os viu, ao se prepararem para a viagem, quando acenaram despedindo-se, minutos antes de se “desvencilharem dos vínculos da Terra para alcançarem a face de Deus”; e lembrou que tudo isso é parte do processo de exploração e descobertas, objetivando a expansão dos horizontes da humanidade, processo esse que haverá de prosseguir. Apesar do extraordinário progresso já alcançado, a humanidade continua na escuridão da ignorância, ainda tendo muito que aprender; cada salto revela que a última vitória obtida foi apenas um pequeno degrau rumo ao conhecimento do Universo e de seu Criador.
A idéia de construção de um avião orbital reutilizável, para o homem poder ir e voltar repetidas vezes, como um “ônibus espacial”, surgiu no começo dos anos 70, merecendo um capítulo muito especial na História da Aviação. Do projeto ao lançamento do primeiro, em 14 de Abril de 1981, denominado “Columbia”, a NASA teve de vencer uma verdadeira multidão de obstáculos. Trata-se do engenho mais sofisticado jamais construído pelo homem. É simplesmente fascinante o exame, embora superficial, das características exclusivas das aeronaves conhecidas como “ônibus espaciais”. Pois bem, 24 vezes elas já foram ao espaço, cumpriram missões espetaculares e regressaram à Terra, reentrando na atmosfera quase como um meteorito, planando como um avião normal e finalmente pousando com suavidade no aeroporto objeto de seu “plano de vôo”. Acho que essas naves deslumbrariam o próprio JULES VERNES, o “grande precursor da ficção científica”, se sua vida houvesse se prolongado por mais oitenta anos.
A “Challenger” será um marco inesquecível na trajetória da “corrida espacial” em que russos e americanos têm competido, repetindo o padrão das epopéias que em séculos passados marcaram as grandes tragédias e os extraordinários progressos da raça humana. Quando FRANCIS SCOBEE e sua tripulação da nave sinistrada em 28 de Janeiro de 1986 tornaram-se mártires da “corrida espacial”, fazia apenas um quarto de século que YURI GAGARIN  efetuara (em 12 de Abril de 1961) o 1º vôo do homem no espaço. Entrementes, outros astronautas de ambos os países perderam suas vidas no campo da luta tecnológica. Antes de 1927, quando CHARLES LINDBERGH realizou o 1º vôo sem escala entre Nova York e Paris, outros também haviam tentado, abrindo com suas próprias vidas o caminho para vitórias futuras de outros bravos que, como eles, igualmente se arriscaram a expandir os horizontes da humanidade.
Recuando muito mais no tempo, contemplamos a figura do descobridor da América, CRISTÓVÃO COLOMBO - o “challenger” (desafiador) da época – que ousou desafiar o mar em naves movidas unicamente pelo vento. Certa vez estive a bordo de uma réplica da caravela desse extraordinário navegador, exposta à visitação na Feira Mundial de Nova York (de 1965), e constatei a precariedade daquele barco. A competência e a bravura para enfrentar o desconhecido eram características pessoais daquele e também de outros grandes navegadores, tais como: VASCO DA GAMA, que descobriu o caminho para a Índia ao realizar a viagem imortalizada por Camões, a 1ª da Europa à Ásia pelo mar; PEDRO ÁLVARES CABRAL, que descobriu nosso Brasil; e FERNÃO DE MAGALHÃES, pioneiro da circunavegação(provando a esfericidade do globo terrestre), apesar de haver sido morto por indígenas antes do término de sua façanha, que todavia foi completada por JUAN SEBASTIÁN DE ELCANO.  Com o passar dos séculos, muitos foram os homens que se distinguiram como exploradores, sendo todos eles credores da humanidade pela contribuição que deram ao alargamento das fronteiras geográficas e do conhecimento humano. Dentre eles, não foram poucos os que apenas tentaram sem alcançar o alvo, e até pereceram, sozinhos ou com todos os seus acompanhantes. Estes deixaram um exemplo, que a História consagrou, e um desafio (“challenge”) para outros prosseguirem. Dignos de serem lembrados, dentre outros, são ROALD AMUNDSEN, que morreu no Ártico (procurando UMBERTO NOBILE, que explorou o Polo Norte em um dirigível, depois de haver ele próprio atingido o Polo Sul) e ROBERT FALCON SCOTT, que pereceu na Antártida em sua terceira expedição.
A história da raça humana épontilhada de exemplos marcantes de conquistas e vitórias sucedendo a desastres e mortes de incontáveis mártires e heróis que abriram veredas e caminhos no escuro e no desconhecido, desafiando matas, desertos, mares, calotas polares, os ares... e agora o espaço!
A lamentável explosão que vitimou os sete astronautas da “Challenger” certamente haverá de contribuir para o aperfeiçoamento dos futuros “ônibus espaciais”; talvez possa também, de uma forma ou de outra, aproximar de CRISTO os homens, ao reconhecerem a insignificância que nos é inerente. Sendo próprio da natureza humana o desafio de explorar o desconhecido - em terra, nos mares e nos ares – assim também deveria ser o desafio pessoal de cada um no sentido de procurar conhecer AQUELE de Quem todos se lembram quando se vêem diante do perigo, da perda de um ente querido ou de uma tragédia nacional. Ocorrência dolorosas e chocantes têm levado muitos ao estudo da Bíblia para poderem conhecer o único caminho que verdadeiramente pode levar os homens a “alcançarem a face de DEUS” quando se “desvencilharem dos vínculos da Terra”.   


Obs.: Sob o título “A Challenger entrou para a História” este artigo foi publicado  em Julho de 1987 na revista “Brasil Rotário” e, em 2014, no livro “Compartilhando Riquezas de Vida”.  Neste blog ele é um dos artigos da parte “AVIAÇÃO”, que nas próximas postagens oferecerá outros igualmente concernentes à aeronáutica ou ao espaço.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente